Uma corte turca ordenou hoje a prisão preventiva de sete suspeitos de um suposto plano de golpe, em 2003, contra o governo de raízes islâmicas do país. A controversa investigação ampliou as tensões no já polarizado país. Entre os suspeitos há dois almirantes da ativa, dois da reserva, um general da reserva e dois coronéis da reserva, segundo a agência de notícias Anatólia. Eles estavam entre os cerca de 50 militares interrogados ontem sobre o suposto plano de golpe.

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Entre esses militares havia ainda um ex-chefe da Marinha e outro da Aeronáutica, Ozden Ornek e Ibrahim Firtina, respectivamente. A ação foi considerada a mais dura já realizada contra as Forças Armadas turcas, um organismo bastante influente no país. Seis outros suspeitos foram liberados após interrogatórios, de acordo com a Anatólia. Ornek e Firtina devem ainda ser questionados por promotores em uma corte ainda hoje. O Judiciário então decidirá se eles serão liberados ou ficarão presos até o julgamento.

As prisões levaram a uma reunião de emergência ontem entre generais de quatro estrelas do Exército e almirantes, a fim de discutir a “situação séria”, segundo um breve comunicado dos militares. De volta de uma visita à Espanha, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan se encontrou no fim da noite de ontem com altos membros do governo.

Divisões

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A investigação aprofundou as divisões entre as forças seculares e o governo. Essas divergências atingem o país desde que o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) chegou ao poder, em novembro de 2002. O AKP fazia parte de um movimento islâmico mais amplo no país, agora proibido.

Os partidários do AKP afirmam que o Exército, que já derrubou quatro governos e tradicionalmente tem forte peso político no país, deve ser forçado a não se intrometer na arena política. Os oponentes, no entanto, dizem que o AKP utiliza essa questão da democratização como pretexto para desacreditar as Forças Armadas, vistas como o pilar do sistema secular turco, ficando com caminho aberto para realizar suas ambições islâmicas.

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O suposto golpe teria sido tramado em 2003 no Primeiro Exército de Istambul, pouco após o AKP chegar ao poder. Não está claro se os envolvidos teriam tomado alguma ação concreta para implementar o plano, revelado primeiro em janeiro pelo jornal “Taraf”, que rotineiramente critica os militares.

O plano supostamente envolvia a colocação de bombas em mesquitas e o aumento da tensão com a Grécia, desacreditando o governo e provocando sua queda. Militares acusados, porém, afirmam que não havia nenhum plano em andamento.

Credibilidade

A credibilidade da investigação foi questionada após a polícia começar a prender jornalistas, escritores e acadêmicos críticos do AKP, com promotores baseando-se em evidências como cartas anônimas e testemunhas secretas. Alguns suspeitos acusaram a polícia de fabricar provas.

Os críticos afirmam que a investigação se tornou um instrumento de intimidação para desarticular a oposição secular. O procurador-chefe da Turquia disse, na semana passada, que examinava se o governo exerce pressão sobre o Judiciário. Caso isso fique comprovado e cause um processo judicial, o AKP poderia até mesmo ser fechado pela Corte Constitucional. Em 2008, o partido escapou por pouco de ser banido por suposta violação do sistema secular turco. As informações são da Dow Jones.