Um tribunal turco aceitou nesta terça-feira o indiciamento de dois ex-líderes militares do golpe de 1980, abrindo o caminho para um julgamento que pelo menos simbolicamente marcará o fim da longa tutela que os militares tiveram sobre a política turca após a redemocratização em 1989. Os dois foram indiciados por “crimes contra o Estado”. Não está claro quando os julgamentos começarão. Embora a junta militar tenha renunciado em 1982, um dos dois indiciados hoje, o general Kenan Evren, governou como presidente biônico até 1989, quando ocorreu a redemocratização.
Após o golpe de 1980, cerca de 100 mil pessoas foram julgadas por tribunais militares e dezenas de milhares de turcos fugiram para a Europa, principalmente à Alemanha, onde permanecem como refugiados políticos. Milhares de homens e mulheres detidos foram torturados e pelo menos 50 opositores, de esquerda e de direita, foram enforcados.
O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse que a decisão é um passo importante em direção a uma “nova Turquia”. A decisão significa que apenas os dois líderes sobreviventes do golpe de 1980 irão a julgamento: o ex-chefe de Estado-Maior, o general Kenan Evren, de 94 anos, e o ex-general Tahsin Sahinkaya, de 86 anos.
Os promotores turcos pedem sentenças de prisão perpétua para Evren e Sahinkaya, sem direito a liberdade condicional, informa o Wall Street Journal. O golpe militar de 1980 foi o terceiro que a Turquia sofreu desde 1923, quando a república foi proclamada e o califado abolido. Embora após a redemocratização os militares tenham perdido força, em 1997 eles conseguiram afastar, com pressões políticas, o primeiro premiê que seguia um partido de raízes islâmicas.
O julgamento dos militares que desfecharam o golpe de 1980 só se tornou possível porque no ano passado a população aprovou em referendo as mudanças na Constituição de 1982, a qual garantia imunidade para os militares que participaram do golpe.
As informações são da Dow Jones.