Policiais e manifestantes entraram em confronto hoje no centro de Túnis, capital da Tunísia. Os violentos protestos já se estendem há quase um mês e representam o mais sério desafio ao autocrático presidente Zine El Abidine Ben Ali, que há duas décadas governa o país com mão de ferro. O governo tunisiano impôs um toque de recolher na capital e em seu entorno, que valerá das 20h às 6h (horário local).
Hoje, a polícia usou gás lacrimogêneo contra centenas de manifestantes no principal cruzamento da capital. O comércio na área foi fechado. Não está claro se há feridos ou se houve prisões. Dois veículos blindados foram colocados no cruzamento, que fica nas proximidades da embaixada da França. O confronto teve início horas depois de o ministro do Interior, Rafik Belhaj Kacem, ter sido demitido, medida que intensificou a sensação de incerteza e levantou questões sobre qual será a próxima ação do presidente Ben Ali.
Os protestos contra o desemprego e a corrupção na Tunísia começaram após um jovem ter se matado ateando fogo a si próprio, depois da polícia confiscar as frutas e legumes que ele vendia sem permissão pelas ruas. O governo diz que 23 pessoas morreram, mas sindicatos e testemunhas afirmam que são pelo menos 46 vítimas.
“Estamos preocupados com os distúrbios e a instabilidade e com o que parecem ser preocupações fundamentais das pessoas que estão protestando”, disse a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, em entrevista em Dubai à emissora de televisão Al-Jazira. “Parece que foi uma combinação de manifestações econômicas e políticas com a reação do governo, que infelizmente levou à morte de alguns manifestantes. Não estamos tomando partido, apenas esperamos que ocorra uma solução pacífica”, comentou Hillary.
Hoje o primeiro-ministro da Tunísia, Mohamed Ghannouchi, anunciou a demissão do ministro do Interior e a libertação da maioria das pessoas detidas durante os tumultos. Ele também divulgou a criação de duas comissões de inquérito para analisar “os excessos cometidos durante dos distúrbios” e “a questão da corrupção e falhas cometidas por certos oficiais”, diz um comunicado.
A nota afirma também que as duas casas do Parlamento serão convocadas para um sessão extraordinária amanhã para um “debate aberto” sobre as medidas anunciadas na segunda-feira pelo presidente Ben Ali, que incluem a criação de 300 mil empregos em dois anos. Segundo o primeiro-ministro Ghannouchi, o presidente destacou seu desejo de colocar em primeiro plano o “diálogo e a liberdade de expressão e associações pacíficas para que todos os partidos se envolvam na discussão dos problemas da nação”.
Ben Ali, de 74 anos, já foi ministro do Interior e tomou o poder 23 anos atrás, após um sangrento golpe de Estado. Grupos de direitos humanos na Tunísia e no exterior criticam a falta de liberdade no país. As informações são da Associated Press.