Pela primeira vez desde 1555 a placa de mármore que sela o que, segundo a tradição Cristã, seria o sepulcro de Jesus foi retirada do lugar. A remoção faz parte de um projeto de restauração e reforço da Edícula, câmara construída em cima do lugar onde Cristo teria sido sepultado e ressuscitado, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém. O santuário é um dos mais antigos e mais importantes do Cristianismo.
O objetivo dos arqueólogos é chegar à caverna onde o corpo de Cristo teria sido colocado após a crucificação. Por anos, especialistas acreditavam que o local estava destruído. No entanto, uma varredura por radar mostrou que a gruta estava íntegra, com profundidade de 1,28m (6 pés).
O que achamos é surpreendente”, afirmou Frederick Hiebert, arqueólogo da National Geographic Society em entrevista à agência de notícias Associated Press. “Passei um tempo na tumba do faraó egípcio Tutancâmon, mas isso é mais importante.”
Abaixo da primeira peça de mármore os arqueólogos encontraram uma camada de entulho. Porém, após a limpeza desta quinta-feira, uma nova placa de mármore foi identificada. Hiebert acha que a segunda tábua, que possui a inscrição de uma cruz e está rachada ao meio, é do século 12. “Não acredito que esta seja a pedra original. Temos ainda um caminho a percorrer.”
“O mármore cobrindo a tumba foi puxado para trás e ficamos surpresos com a quantidade de material abaixo dele. Será uma longa análise científica, mas nós finalmente poderemos ver a pedra original na qual, segundo a tradição, o corpo de Jesus foi colocado”, explicou Hiebert ao site da National Geographic.
Segundo a crença, o corpo de Jesus Cristo teria sido colocado em uma espécie de cama funerária, uma prateleira escavada na parte interna da caverna, logo depois da crucificação. A tumba original teria sido identificada por Helena, mãe do imperador romano Constantino, por volta de 326 d.C. Desde então, a Basília do Santo Sepulcro passou a ser construída sobre o lugar. A última grande reforma aconteceu em 1810, em consequência de um incêndio. A gaiola de ferro, instalada em 1947 para reforçar a estrutura da Edícula, ainda se encontra na basílica.
A Basílica do Santo Sepulcro é o único local onde seis denominações cristãs praticam sua fé ao mesmo tempo: Igreja Ortodoxa Grega, Igreja Católica Romana, Igreja Apostólica Armênia, Coptas, Igreja Ortodoxa Etíope e Igreja Ortodoxa Síria.
Reformas no santuário requerem acordo mútuo entre os chefes dessas seitas, o que é difícil de assegurar. As denominações guardam fortemente o lugar e geralmente se opõem à menor das mudanças. Contudo, o fechamento da Edícula no ano passado após a Autoridade das Antiguidades de Israel a declarar como insegura, impulsionou a decisão pelo restauro.
As lideranças religiosas autorizaram a equipe a escavar o santuário por somente 60 horas. “Fecharemos a tumba assim que terminarmos”, declarou Antonia Moropoulou, arquiteta da Universidade Técnica Nacional de Atenas, entidade que está liderando a renovação. A reforma, com orçamento de US$ 4 milhões (R$ 12,7 milhões), foi iniciada em março deste ano e deve se estender até 2017.
O grupo de restauradores quer selar o centro da tumba antes de injetar cimento em algumas partes da Edícula, para evitar que o material caia dentro da pedra sagrada. Nesta quinta, especialistas cortaram um janela retangular em uma das paredes de mármore da Edícula. Dessa forma, peregrinos poderão vislumbrar pela primeira vez parte da parede de calcário que seria a tumba de Jesus Cristo.