Maior aposta de política externa de Donald Trump, a histórica cúpula que ele terá com Kim Jong-un produzirá cenas inimagináveis há três meses e deverá ser marcada por um clima mais amigável do que o registrado no encontro do presidente dos EUA com seus tradicionais aliados do G-7 nos últimos dois dias.

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Fascinado com a possibilidade de ganhar o Nobel da Paz, caso consiga convencer a Coreia do Norte a abandonar suas armas nucleares, Trump espera que a cúpula seja um “sucesso tremendo” e acredita que alcançará o que ninguém conseguiu.

“Estarei em uma missão de paz”, declarou Trump ontem no Canadá, onde ocorreu a cúpula do G-7, acrescentando que navegará em “território desconhecido” quando se encontrar com Kim. Fiel à sua personalidade, atribuiu o potencial resultado do encontro a seu relacionamento com o norte-coreano. “Saberei no primeiro minuto se a Coreia do Norte é séria em relação à paz”. Trump avaliou que, “no mínimo”, a cúpula iniciará um diálogo sobre desnuclearização.

Muitos analistas são céticos em relação à possibilidade de que as conversas levem Kim a abrir mão do arsenal, a cuja construção dedicou seus primeiros sete anos no poder.

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Trump e Kim estarão frente a frente às 9 horas de terça-feira em Cingapura (22 horas de segunda-feira, 11, horário de Brasília), para uma negociação que não tem data para acabar. Na semana passada, o presidente dos EUA disse que as conversas poderiam se estender por dois ou três dias. O cenário será o resort de luxo Capella, na Ilha Sentosa, o que facilitará o trabalho da segurança para isolar os dois líderes.

A expectativa é que ambos concordem com a assinatura de um documento de acordo de paz que coloque fim oficial à Guerra da Coreia, interrompida há mais de seis décadas com um armistício. O conflito durou três anos e colocou em lados opostos a aliança EUA- Coreia do Sul e China-Coreia do Norte.

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A assinatura da paz é uma antiga demanda de Pyongyang, que a vê como elemento essencial das garantias de segurança que espera obter dos EUA em troca da promessa de abandonar o programa nuclear. “A cúpula deverá ter uma declaração positiva, mas limitada”, avaliou Scott Sagan, professor da Universidade Stanford e um dos principais especialistas em questões nucleares e de segurança dos EUA. “Não haverá propriamente um tratado de paz, que exige a participação de outros países, mas a assinatura de um documento que declare o fim da guerra.”

Sagan espera que Kim apresente promessas de desarmamento, que serão respondidas com o compromisso de redução de sanções internacionais. Mas ressaltou que há profunda desconfiança mútua, agravada do lado norte-coreano pela decisão de Trump de abandonar o acordo nuclear com o Irã assinado por seu antecessor, Barack Obama.

“O presidente americano tem expectativas em relação à cúpula muito elevadas, inalcançáveis e não serão concretizadas”, opinou Joan Rohfling, CEO da entidade Nuclear Threat Initiative. Em sua avaliação, a cúpula será um fracasso se divergências levarem ao abandono do diálogo.

“Sucesso será uma cúpula em que os dois se comprometam a continuar conversando. Haverá sucesso estrondoso se eles concordarem com alguns princípios que possam ser negociados ao longo de vários meses ou anos.” Rohfling ressaltou que a desnuclearização da Península Coreana é algo complexo, que demandará tempo e paciência.

Mas não há dúvida que o encontro terá o peso de um evento com poucos paralelos na história. “É como (Richard) Nixon indo para a China”, disse o embaixador americano aposentado Joe Yun, fazendo referência à visita de 1972, o primeiro passo para a normalização das relações de Pequim e EUA.

Ex-representante do Departamento de Estado para políticas relativas à Coreia do Norte, Yun acredita que o encontro será realizado sem incidentes. “Essa é uma cúpula que Trump aguarda há muito tempo, antes mesmo de ser eleito”, disse. “Teremos um resultado com credibilidade se houver acordo sobre desnuclearização e garantias de segurança.” Tudo isso supõe que Trump e Kim estarão frente a frente, algo que não está totalmente garantido em razão da imprevisibilidade dos líderes. O americano cancelou a cúpula no dia 1.º e, oito dias mais tarde, colocou-a de volta na agenda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.