Uma tribo indígena da Flórida está em pé de guerra contra o homem que foi seu chefe durante mais de duas décadas, convencidos de que ele roubou mais de US$ 26 milhões para gastá-los em jogo, viagens, carros de luxo entre outros bens.
Os miccosukee apresentaram um processo em um tribunal federal americano no qual acusam Billy Cypress, que esteve à frente deste grupo de 1987 a 2009, quando foi destituído, de conspirar para ocultar um “enorme trâmite de roubo financeiro, desfalque e fraude”.
Esta tribo vive, como muitas outras nos Estados Unidos, da exploração de cassinos, aproveitando a imunidade soberana de suas reservas, que impede as autoridades americanas de regular e proibir o jogo em seus territórios.
O processo de 78 páginas, incluído nesta semana no arquivo eletrônico do sistema judiciário americano, também é voltado contra dois assessores financeiros dos miccosukee, dois advogados americanos e uma firma de investimentos por participarem de “uma enorme fraude que o povo só descobriu em 2010”.
Este caso é só mais um dos que estão sendo investigados desde que em 2010 foi descoberto que a receita federal investigava Cypress por despesas milionárias vinculadas a supostas violações das leis de impostos nos jogos de azar.
Em suas inúmeras batalhas legais com o fisco dos EUA, esta tribo costumava se amparar em seu status de nação soberana para que suas contas não fossem investigadas, mas desde que esse escândalo veio à tona, e pressionados pela recessão econômica, os próprios miccosukee se voltaram contra seu ex-chefe e estão resolvendo seus assuntos, algo que nunca tinha sido feito antes.
Assuntos tão polêmicos como a proteção do pântano de Everglades, onde está radicada a tribo, ou casos de assassinato e de acidentes de trânsito estiveram sempre sujeitos a sua condição de povo soberano.
Os miccosukee distribuem todos os anos entre seus membros milhões de dólares procedentes dos lucros gerados por seus negócios, especialmente de cassinos, e, segundo assessores financeiros da tribo durante décadas, esses fundos não deveriam ser tributados na receita federal.
Entre outros assuntos, os miccosukee também suspeitam que seu ex-chefe não dividiu todo o dinheiro que devia e que, ao contrário, pagou com cartões de crédito da tribo em seu nome R$ 3 milhões em viagens pessoais para diferentes cassinos do país entre 2003 e 2005.
No processo também se acusa Cypress de ter retirado mais de US$ 11,5 milhões em caixas automáticos de cassinos de Las Vegas, entre outros lugares, e de ter gasto US$ 4 milhões com um cartão de crédito em joias e refeições em restaurantes só durante os três últimos anos em que esteve à frente da tribo.
Além disso, os miccosukee acusam seu ex-chefe de ter comprado mais de dez residências e outros imóveis na Flórida, num total de US$ 4 milhões.
Um dos advogados que os indígenas também processaram é Dexter Lehtinen, marido da congressista republicana pela Flórida Ileana Ros-Lehtinen e ex-promotor federal deste mesmo estado.
Dexter foi o principal assessor financeiro da tribo de fevereiro de 1992 até maio de 2010, período no qual recebeu cerca de US$ 50 milhões por seu trabalho.
Em 2010, a tribo o dispensou e, em novembro do ano passado, o processou, acusando-o de negligência durante duas décadas sobre como tributar as receitas que obtinham através do jogo.
“Cypress, sem o consentimento e conhecimento dos miccosukee, pagou (a dois assessores) mais de US$ 10 milhões em comissões entre 2005 e 2009 por um ‘trabalho legal’ que foi insubstancial, fictício, exagerado, excessivo e inventado”, segundo uma das inúmeras acusações incluídas no processo.
O documento também diz que os assessores legais cobravam algumas vezes mais de US$ 2 mil por hora, além de “milhares de dólares em luxuosas viagens pessoais, despesas particulares, passeios, restaurantes e outros benefícios pessoais aprovados por Cypress”.
O povoado desta tribo de índios procedentes dos estados da Geórgia e das Carolinas do Norte e do Sul, denominado Indian Village, fica no coração do Parque Nacional de Everglades.