Noventa e três países assinaram um tratado para proibir a fabricação de bombas de cacho. O documento é visto como um dos maiores acordos humanitários internacionais discutidos na última década, afirmaram hoje representantes da Noruega. Os principais produtores de armas como China, Rússia e Estados Unidos recusaram-se a assinar o tratado, ao contrário da maioria dos países europeus. A Convenção sobre Munições de Cacho, uma organização que agrega cerca de 300 grupos de ajuda humanitária, acredita que mais quatro ou cinco países assinarão o tratado ainda hoje.

continua após a publicidade

O documento também será enviado para a sede das Nações Unidas, em Nova York, onde outros países poderão aderir ao tratado. “As coisas estão acontecendo conforme o previsto”, disse o vice-ministro do Exterior da Noruega, Raymond Johansen, ao final da cerimônia de encerramento, após dois dias de assinaturas, em Oslo. O Brasil, que também produz esse tipo de bomba, não aderiu ao tratado internacional.

Questionado sobre a decisão do País por deputados da Comissão de Relações Exteriores, o chanceler Celso Amorim alegou que ainda não há uma posição fechada no governo sobre essa questão e que o Brasil poderá, no futuro, aderir ao tratado. O Brasil também preferiria uma negociação no âmbito das Nações Unidas, em vez do foro informal organizado pela Noruega para discutir o tema.

Afeganistão, Laos e Líbano, três países gravemente afetados pelo uso de bombas de cacho, também assinaram o documento. Já o Iraque informou que vai aderir ao tratado “o mais rápido possível”. A proibição torna ilegal o uso, a produção, a transferência e a estocagem de munições de cacho e exige que os signatários prestem assistência às vítimas dessas armas. “Este é o maior acordo humanitário da última década”, disse Richard Moyes, da Convenção sobre Munições de Cacho.

continua após a publicidade

Feridos

Bombas de cacho, ou bombas cluster, que são jogadas por aviões ou lançadas por peças de artilharia, explodem no ar e espalham centenas de bombas menores por uma ampla área. Muitas dessas bombas não explodem na hora e matam ou mutilam pessoas tempos depois do final dos conflitos. Quando o tratado foi negociado em maio, em Dublin, 107 países concordaram com seu conteúdo. A diferença numérica para o tratado de Oslo é atribuída a razões burocráticas.

continua após a publicidade

O documento precisa ser ratificado por pelo menos 30 países antes de se tornar efetivo. A Noruega, que teve um papel fundamental na obtenção do acordo, já iniciou o processo de ratificação, assim como Irlanda, Serra Leoa e Vaticano. As bombas de cacho mataram ou feriram mais de 100 mil pessoas desde 1965, nos cálculos da Handicap International, organização não-governamental que atua em favor do banimento dessa arma. Desse total, 98% eram civis e mais de 25%, crianças.