A eleição presidencial haitiana vai inaugurar no dia 28 um sinistro mecanismo de cálculo para a formação do coeficiente eleitoral. Para acompanhar o ritmo vertiginoso das mortes provocadas tanto pelo terremoto de janeiro quanto pela epidemia de cólera, o governo resolveu aplicar uma dedução de 7% sobre o total dos votos válidos – automaticamente.
O porcentual acompanha um decréscimo-padrão por mortes registrado desde 2005 sobre o total de eleitores do país, que hoje é estimado em 4,7 milhões. E como a eleição para renovar dois terços do Senado e a totalidade dos assentos da Câmara é definida, como no Brasil, pelo sistema de voto proporcional, cada departamento (Estado) haitiano poderá ter um índice próprio de dedução dos votos por estimativa de mortes. A conta obedecerá ao critério de exposição de cada departamento aos efeitos das múltiplas tragédias que têm atingido o país mais pobre da América.
A criativa e complexa engenharia eleitoral está sob responsabilidade dos órgãos governamentais haitianos, com forte apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA). O brasileiro Ricardo Seitenfus coordena o projeto em Porto Príncipe e acredita que esta é a única forma justa de contar os votos. “No Haiti, morto não vota. Em outros países, pode até haver fraude com título de eleitor morto, mas no Haiti estamos fazendo de tudo para que o resultado não seja contestado”, disse à reportagem.
Disputa acirrada
Quatro dos 19 candidatos à presidência lideram a disputa no Haiti. Nenhum deles tem mais de 25% das intenções de voto, de acordo com as pesquisas disponíveis. A líder é Sabine Manigat, com 23%. Em seguida, está a candidata apoiada pelo presidente René Préval, Jude Célestin, com 21%. Analistas dizem que a decisão só deve ocorrer no segundo turno, marcado para janeiro.