O aumento dos preços dos alimentos fez o número de famintos no mundo crescer 40 milhões para 963 milhões de pessoas em 2008, ante o ano passado, de acordo com dados preliminares divulgados nesta terça-feira (9) pela Organização das Nações Unidas (ONU) para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês). A entidade advertiu que a crise econômica mundial pode levar ainda mais pessoas a essa condição. Levando em conta dados do US Census Bureau, departamento de estatísticas do governo norte-americano, que contam a população mundial em 6,7 bilhões de pessoas, o número de famintos representa 14,3% do total.
“Os preços dos alimentos caíram desde o início de 2008, mas isso não resolveu a crise alimentar em muitos países pobres”, afirmou o diretor-geral assistente da FAO, Hafez Ghanem, ao apresentar a edição 2008 do relatório da entidade sobre a fome mundial, chamado “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo em 2008”. “Os problemas estruturais da fome, como a falta de acesso à terra, ao crédito e ao emprego, combinados com o aumento dos preços dos alimentos permanecem como uma dura realidade para milhões de pessoas nos países em desenvolvimento”, disse Ghanem.
Os preços dos principais cereais caíram mais de 50% desde o pico no início do ano, mas eles permanecem altos quando comparados a períodos anteriores. O índice de preços de alimentos da FAO marcava aumento de 28% em outubro, ante o mesmo mês em 2006. O aumento do valor de fertilizantes e sementes também impede que pequenos produtores incrementem a produção. A oferta de cereais nos países em desenvolvimento não deve crescer mais que 1% em 2008, ante 10% nos países desenvolvidos.
“Se a queda dos preços e a escassez de crédito forçarem os produtores a reduzir as lavouras, outro aumento dramático de preços pode ocorrer no próximo ano”, disse Ghanem. “A meta da Cúpula Mundial sobre Alimentos de 1996, para reduzir a fome em um terço até 2015, exige um forte compromisso político e investimentos de pelo menos US$ 30 bilhões por ano em agricultura e proteção social nos países pobres”, acrescentou.
A grande maioria dos famintos – 907 milhões – vive nos países pobres. Desses, 65% moram em apenas sete nações: Índia, China, Congo, Bangladesh, Indonésia, Paquistão e Etiópia. A FAO comenta em seu relatório da fome que alguns países do sudeste asiático como Tailândia e Vietnã fizeram progressos em reduzir o número de pessoas que não têm o que comer, enquanto e região sul e central da Ásia regrediu.
Na África subsaariana, um terço da população – 236 milhões de pessoas – vive com fome crônica. É a maior proporção dentre os continentes. O Congo foi disparado o país africano onde a fome mais se alastrou por causa de conflitos generalizados e persistentes nos últimos anos. A proporção de famintos foi de 26% da população de 2003/05 a 76% neste ano. Em números absolutos, eles passaram de 11 milhões para 43 milhões de pessoas. América Latina e Caribe tinham conseguido reduzir o número de famintos antes do aumento dos preços dos alimentos, mas depois disso ele cresceu para 51 milhões de pessoas.