Autoridades locais estenderam ontem o toque de recolher na região de Concepción, como forma de tentar conter os saques que sucederam o terremoto que devastou o Chile no último sábado.
Patricio Rosende, subsecretário de Interior do Chile, anunciou em Santiago que o toque de recolher está em vigor das 20h locais de ontem até o meio-dia de hoje.
Segundo Rosende, a medida foi adotada como forma de conter uma onda de pilhagens que persistia hoje apesar da chegada das Forças Armadas. Ainda de acordo com ele, o efetivo policial e militar na região foi elevado a 7 mil homens e tem como objetivo “restabelecer a ordem em todos os lugares onde ela tenha sido alterada”.
O chefe de polícia de Concepción, Eliecer Soler, disse que policiais detiveram 55 pessoas por violarem o toque de recolher depois que saqueadores invadiram quase todos os mercados da cidade.
A prefeita Jacqueline van Rysselberghe disse à Rádio Cooperativa que alguns carregamentos de comida estavam chegando à cidade nesta segunda-feira para distribuição. O local está sem eletricidade e a água é escassa.
A presidente Michelle Bachelet, que entregará o poder a seu sucessor, Sebastián Piñera, no dia 11, disse que a Aeronáutica começou a realizar voos para entregar comida e outros tipos de auxílio vital para as áreas mais atingidas, algumas praticamente isoladas pelo tremor.
Falha em alerta
A extensão do desastre nas áreas costeiras começou a ficar mais clara no domingo, após ondas gigantes causaram mortes e muita destruição. A presidente chilena, Michelle Bachelet admitiu que o governo errou ao não advertir sobre o risco de tsunami após o terremoto de magnitude 8,8 no sábado.
A televisão estatal informou que mais de 500 corpos foram encontrados apenas na vila pesqueira de Constitución. O dado, porém, ainda não foi confirmado por outras fontes. As ondas gigantes atingiram cidades e vilas da costa, afogando moradores, levando casas inteiras e causando desespero entre os moradores.
“A onda veio e cobriu tudo. Foi algo como seis metros de altura”, afirmou Carlos Palma, enquanto tentava salvar seus pertences na cidade costeira de Penco. Dados oficiais de especialistas do Centro de Alerta de Tsunamis do Pacífico, dos Estados Unidos, afirmaram que a maior onda foi de 2,6 metros.
Muitos não sabiam sobre a possibilidade da formação das ondas, sendo pegos de surpresa pelo fenômeno. “Foi um erro”, reconheceu o ministro da Defesa, Francisco Vidal. A Marinha “cometeu um erro ao não emitir um alerta de tsunami”.
Perdas
Estima-se que aproximadamente dois milhões de chilenos, ou um oitavo da população total do país, tenham sido afetados pelo terremoto do sábado. O pior tremor a atingir o Chile em 50 anos danificou importantes rodovias, causando muitas fissuras, além de afetar pontes e outras passagens.
Funcionários disseram que 1,5 milhão de casas e edifícios foram destruídos ou danificados seriamente. Noventa por cento do centro histórico da cidade de Curico foi destruído.
Diferentemente do Haiti, que sofreu um forte terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter em 12 de janeiro que matou 217 mil pessoas, o Chile é um dos países mais ricos da região e está mais preparado para situações do tipo, desde o violento terremoto ocorrido em 1960.
O epicentro do terremoto no sábado foi algumas centenas de quilômetros ao norte do maior tremor já registrado no país, em maio de 1960. O terremoto de magnitude 9,5 matou na ocasião entre 2.200 e 5.700 pessoas.
Especialistas afirmaram que o terremoto do sábado foi causado pela fricção entre a placa de Nazca e a placa Sul-americana. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, visitará Santiago amanhã e deve se encontrar com Bachelet e Piñera.
Com informações da Dow Jones.