Grupos de ajuda internacional se apressavam hoje para enviar comida, remédios e outros suprimentos ao Haiti. Ontem, o terremoto mais forte no país em mais de 200 anos derrubou vários prédios e gerou o temor de que os mortos cheguem a milhares.

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Navios e equipes de resgate dos Estados Unidos se preparavam para partir para a nação caribenha. Vários governos, incluindo Grã-Bretanha, França, China e Venezuela ofereceram auxílio, segundo autoridades. As Nações Unidas devem enviar aviões com suprimentos e a Cruz Vermelha mobilizou seus estoques emergenciais mantidos na região.

O colapso parcial das comunicações e da infraestrutura em geral atrapalhou os esforços para verificar com precisão o estrago causado pelo terremoto, que atingiu 7 graus na escala Richter. No entanto, relatos terríveis de prédios destruídos e corpos soterrados, inclusive com fotos, aumentaram o temor de que a destruição tenha sido enorme.

O epicentro do terremoto fica a cerca de 20 quilômetros a sudoeste da capital do empobrecido país, Porto Príncipe, segundo o Centro de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos. Testemunhas relataram ter encontrado corpos e ouvido muitos pedindo ajuda. “Eu vi corpos, pessoas chorando, elas estão nas ruas em pânico, as pessoas estão feridas”, contou por telefone Raphaelle Chenet, administradora da Mercy and Sharing, uma instituição de caridade que cuida de 109 órfãos na capital. “Há muitos feridos, cabeças feridas, braços quebrados.”

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Um hospital em Porto Príncipe desabou, como dezenas de outros prédios, incluindo um dos edifícios do complexo presidencial e outro prédio de um ministério, segundo Alice Blanchet, assessora especial do governo haitiano. Outros importantes prédios da capital, como a sede das Nações Unidas e o Hotel Montana, sofreram sérios estragos, segundo testemunhas.

“Acho que a única boa notícia é que o tremor ocorreu tarde (16h50 locais, 19h50 de Brasília) e muitas pessoas que estariam trabalhando nestes prédios estavam na rua ou em casa”, contou Alice. A presença de milhares de mantenedores de paz da ONU no Haiti ampliou a atenção internacional para o desastre. O Brasil lidera a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) desde 2004. Há 1.266 militares brasileiros no país, segundo o Ministério da Defesa, sendo que a morte de quatro deles já foi confirmada.

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A Jordânia também confirmou a morte de pelo menos três de seus soldados no país. Já a mídia estatal chinesa informou que oito soldados da China morreram e outros estão desaparecidos. “Neste momento de tragédia, estou muito preocupado com o povo do Haiti e também com os muitos funcionários das Nações Unidas que atuam lá”, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em comunicado.

Em Porto Príncipe, muitas casas construídas em morros íngremes desabaram, segundo várias testemunhas. Raphaelle disse que ouviu algumas explosões, que na opinião dela deveriam ser de combustível. Os órfãos das duas instituições mantidas pela Mercy and Sharing não ficaram feridos.

Um geofísico do Centro de Pesquisa Geológica dos EUA (USGS, na sigla em inglês), John Bellini, afirmou que 1,8 milhão de pessoas vivem na área de maior intensidade do tremor. “Com um terremoto forte e raso como esse, em uma área povoada como essa, isso poderia realmente causar estrago substancial”, avaliou Bellini. Com a chegada da noite, é muito difícil estimar a extensão das mortes. Especialistas em desastres afirmam que vários modelos matemáticos para terremotos de magnitude semelhante no Haiti previram que o número de mortos pode chegar a 4 mil.

O embaixador grego na Venezuela, Efstathios Daras, que também representa a Grécia no Haiti, afirmou que seu país teme “uma grande perda de vidas, talvez de milhares ou dezenas de milhares”. Ele disse ainda que há o temor de que haja mais tremores secundários, que poderiam piorar ainda mais a situação. Um especialista em gerenciamento de desastres do Banco Mundial, Francis Ghesquiere, notou que o número de mortos deve subir, por não haver preparo no país para tragédias do tipo, além do fato de o governo local ser bastante fraco.

Pode haver ainda problemas de segurança, caso vítimas ou outras pessoas tentem se aproveitar do caos para realizar saques, por exemplo. Casos do tipo já ocorreram em desastres anteriores do Haiti e, agora, apesar da presença de uma força da ONU, “a situação de segurança pode tornar-se um grande problema”, advertiu Ghesquiere.

Histórico

O terremoto foi o mais forte a atingir o Haiti desde pelo menos 1770, segundo os registros do USGS. O tremor foi sentido até na Venezuela. Já houve vários terremotos violentos na América Latina no passado. Em 1972, um terremoto de magnitude 6,2 atingiu Manágua, matando entre 3 mil e 7 mil pessoas. Em 1976, na Guatemala, um tremor de magnitude 7,5 matou 23 mil pessoas. Em 1985, um terremoto de magnitude 8,1 atingiu a Cidade do México, matando pelo menos 10 mil pessoas.

O Haiti sofre também com a instabilidade política. Em 2004, o presidente Jean-Bertrand Aristide, um ex-padre católico, foi deposto em uma rebelião de ex-soldados e fugiu para o exílio na África do Sul. Em 2008, o país entrou em nova rota de instabilidade, quando milhares foram protestar nas ruas pelos altos preços da comida. Oito em cada dez haitianos vivem na pobreza, segundo o site CIA World Factbook.

A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) atua no Haiti desde 2004 e, atualmente, tem 7 mil soldados no país. A ilha também é uma importante rota de tráfico de drogas vindas da América do Sul e tem problemas com a violência e a corrupção. No ano passado, o país foi ainda devastado por furacões e tempestades tropicais. As informações são da Dow Jones.