Os conflitos entre produtores de soja e grupos indígenas do Paraguai podem se agravar após acusações de que sojicultores lançaram pesticidas em uma vila a fim de expulsar moradores de terras em disputa. Cerca de 200 pessoas foram envenenadas, sendo sete hospitalizadas, segundo a Anistia Internacional (AI).

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Uma vila no distrito de Itakyry, no leste paraguaio, teria sido contaminada por agroquímicos lançados por empregados de produtores locais. Isso teria ocorrido após mais de 50 homens, aparentemente representando sojicultores brasileiros, tentarem remover um grupo indígena de uma área cuja posse é reclamada pelos produtores, de acordo com informações da AI. A tribo, que também alega ter a posse daquela terra, repeliu os homens com arcos e flechas. No fim daquele dia, as casas da vila foram pulverizadas com pesticidas normalmente usados nas lavouras de soja.

A ministra de Saúde Pública do Paraguai, Esperanza Martinez, visitou o local e disse que os residentes adoeceram depois de aspirarem uma substância líquida jogada por um avião. Ela exigiu uma investigação do governo para determinar o que exatamente foi lançado na vila e apurar a responsabilidade pelo crime.

Nidia Silvero de Prieto, advogada que representa os produtores, negou em entrevista ao jornal “ABC” qualquer tentativa de envenenamento. Segundo ela, os produtores de soja possuem títulos de cerca de 13 mil hectares em disputa, que foram ocupados pelo grupo indígena nove meses atrás.

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Produto de exportação

A soja é o principal produto de exportação do Paraguai, quarto maior fornecedor mundial da oleaginosa. As tensões entre camponeses e produtores têm crescido nos últimos anos à medida que o avanço do plantio de soja desloca camponeses para áreas rurais mais pobres. Ativistas de reforma agrária pedem um aumento nos impostos cobrados dos grandes produtores, rigorosos controles ambientais e a interrupção dos deslocamentos dos pequenos produtores pela indústria de soja.

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O presidente paraguaio, Fernando Lugo, prometeu realizar uma ampla reforma agrária, mas o avanço nessa questão desde que tomou posse, em 2008, tem sido lento e decepciona muitos de seus apoiadores.

Mais de 18 ativistas foram mortos pela polícia e por guardas armados empregados por sojilcultores nos últimos cinco anos, de acordo com Belarmino Balbuena, líder do Movimento dos Camponeses Paraguaios. Produtores, muitos imigrados do Brasil, também sofrem com a violência. A maior parte dos conflitos ocorre na fronteira leste, com o Brasil, onde grandes extensões de florestas foram derrubadas para o plantio de soja.

No Paraguai, 42% da população vive em áreas rurais, de acordo com o Banco Mundial. O agronegócio representa cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, 30% dos empregos. Dez por cento da população controla 66% das áreas rurais, enquanto 30% dos residentes rurais não possuem terras, segundo o Banco Mundial. As informações são da Dow Jones.