Tensão política marca feriado cívico na Argentina

É feriado hoje e amanhã na Argentina. O país celebra o bicentenário da Revolução de 25 de Maio, que abriu caminho para a independência. Apesar do cenário de festa para marcar a importante data, o clima é de tensão política e de um país dividido. A presidente não vai estar presente a um dos principais eventos da programação do bicentenário: a reabertura do Teatro Colón, um dos mais importantes do mundo, por sua arquitetura, acústica e história. O teatro, que permaneceu fechado por quase quatro anos para reforma, é patrimônio de Buenos Aires, cidade governada por um opositor ao governo, Maurício Macri.

O prefeito acusou o marido de Cristina, o ex-presidente Néstor Kirchner, de incriminá-lo em um escandaloso caso de escutas telefônicas no governo da cidade. Cristina declinou do convite para a sessão de gala do Colón, alegando sentir-se ofendida pelas acusações. Contudo, o real motivo para a ausência presidencial é o temor à hostilidade do público portenho. Na capital, cada vez mais os Kirchner perdem poder e popularidade: Buenos Aires é o principal reduto de resistência aos Kirchner.

Há três semanas, a Casa Rosada pediu ao governo de Macri mil convites para a sessão de gala, quantidade que equivale a pouco menos da metade da capacidade do teatro. Mas os organizadores do concorrido evento ofereceram somente 200 convites. Nos bastidores da política argentina, a informação é de que o casal Kirchner preferiu não arriscar a sofrer uma saraivada de vaias, como ocorreu na sexta-feira durante desfile presidido pelo secretário da Cultura, Jorge Coscia, quando ele citou o nome da presidente.

O mesmo temor teria sido a razão da ausência de Cristina do desfile militar realizado no sábado, em que sua participação estava prevista na agenda oficial. Em permanente conflito com um setor da Igreja Católica, Cristina também não vai estar presente ao Te Deum da Catedral de Buenos Aires, realizado pelo cardeal Jorge Bergoglio, ferrenho crítico do governo kirchnerista. A presidente mede forças com o cardeal, convocando os seguidores políticos dela ao Te Deum da catedral de Luján, cidade da província de Buenos Aires.

O clima de confronto é evidenciado em cada um dos eventos organizados pela Casa Rosada durante as comemorações do bicentenário, para os quais não foram feitos convites a nenhum dos ex-presidentes da Argentina, nem ao vice-presidente Julio Cobos e a líderes da oposição. Todos eles são considerados inimigos pelos Kirchner e a data da Pátria se transformou em um evento pessoal do casal.

Os adversários políticos foram vetados também para o grande jantar no Salão Branco da Casa Rosada, amanhã à noite. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos 200 convidados especiais para o jantar que encerra as celebrações. Em seu discurso, Cristina vai mencionar o histórico bicentenário, mas o enfoque será sobre os sete anos de governo dela e de seu marido.

Nestor Kirchner assumiu o governo em 25 de maio de 2003, com um país “em chamas”, como o casal costuma se referir à crise de 2001/2002. A presidente vai ressaltar o “modelo” de governo que, segundo ela, salvou a Argentina e produziu um crescimento econômico com taxas “chinesas”.

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