Uma autoridade do Pentágono reconheceu em uma entrevista publicada nesta quarta-feira (14) que os Estados Unidos torturaram o árabe-saudita Mohammed al-Qahtani. A vítima, supostamente, esperava se tornar o “vigésimo sequestrador” nos ataques de 11 de setembro de 2001. “Nós torturamos Qahtani”, afirmou a juíza aposentada Susan J. Crawford, entrevistada pelo jornalista Bob Woodward, do The Washington Post. Funcionária do Pentágono, Crawford foi apontada como autoridade de convocação para as comissões militares de Guantánamo em fevereiro de 2007.
Al-Qahtani foi um dos seis homens acusados pelo Exército em fevereiro de 2008 por assassinato e crimes de guerra por suposto envolvimento nos ataques de 2001. Mas em maio Crawford decidiu retirar as acusações contra Qahtani, que estava na prisão militar norte-americana de Baía de Guantánamo, em Cuba.
O advogado de Qahtani apontado pelo Pentágono, o coronel Bryan Broyles, sugeriu na época que o severo interrogatório de seu cliente, autorizado pelo então secretário de Defesa Donald H. Rumsfeld, pode ter influenciado a decisão. “Em qualquer instância em que os Estados Unidos desejem impor a pena de morte, minha opinião é de que tal caso requer mãos limpas da parte dos EUA”, disse Broyles à Associated Press, em maio.
Autoridades norte-americanas reconheceram que Qahtani foi submetido a afogamento simulado por interrogadores da CIA e a maus tratos em Guantánamo. Em outubro de 2006, Qahtani voltou atrás sobre uma confissão que fez depois de ser torturado e humilhado na prisão.
Ele detalhou por escrito a suposta tortura, afirmando que recebeu mordidas, foi forçado a ficar por longos períodos em posições desconfortáveis, ameaçado com cães, exposto à música alta e a temperaturas muito frias e despido em frente a militares mulheres. “O tratamento que ele recebeu se encaixa na definição legal de tortura. E é por isso que eu não submeti o caso à instauração de processo”, afirmou Crawford na entrevista publicada pelo Post.