Os chefes de Estado do Sudão e do Sudão do Sul iniciaram neste domingo em Adís Abeba suas conversas para tentar resolver a crise aberta entre os países desde que o segundo conquistou sua independência em 2011, o que passa por um pacto para definir suas fronteiras.
O presidente do Sudão, Omar Hassan al Bashir, e seu colega do Sudão do Sul, Salva Kiir, se encontraram no hotel Sheraton Addis após se reunir separadamente com o novo primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalgn, no palácio presidencial da capital.
O vice-ministro de Exteriores etíope, Birhane Gebrekiristos, confirmou aos jornalistas que os líderes já começaram a reunião, que poderia prolongar-se até segunda-feira, e espera que o encontro “finalize com sucesso”.
No sábado, o governo de Cartum (Sudão) aceitou “com condições” o acordo da União Africana (UA), assinado por seus vizinhos do sul, para estabelecer uma zona desmilitarizada entre os países, de acordo com as exigências do Conselho de Segurança das Nações Unidas, informaram à Agência Efe fontes da UA e do governo etíope.
A desmilitarização da fronteira é um passo significativo para o desenvolvimento das negociações, cujo maior desafio é fixar os limites do novo Estado do Sudão do Sul, que conquistou a independência após um referendo, e pôr fim aos confrontos na divisa.
Pela primeira vez em um ano, os chefes de Estado sudaneses se encontram pessoalmente para tentar definir seus 1,8 mil quilômetros de fronteira e reiniciar de maneira estável as exportações de petróleo do Sul.
Al Bashir e Salva Kiir já assinaram um acordo provisório no mês de agosto para permitir a passagem do petróleo sulista até os portos do Mar Vermelho, cuja materialização poderia ser assinada ao término desta cúpula presidencial.
Este pacto permitiria evitar o colapso econômico de ambos países, cujas receitas dependem das exportações de petróleo, e driblar as sanções do Conselho de Segurança da ONU.
A União Africana deu aos dois países um ultimato, ao qual se incorporou posteriormente a ONU, para alcançar um acordo nesta matéria antes do dia 2 de agosto ou enfrentar sanções internacionais, cujo prazo foi estendido após este primeiro consenso.
“Temos a esperança que aqui será firmado um acordo que incorpore todos os assuntos pendentes (entre Sudão e Sudão do Sul)”, afirmou ontem à Efe o porta-voz da delegação de Juba (Sudão do Sul), Atis Kiir.
“Todas as leis regionais e internacionais nos obrigam a conseguir a paz em nossa região, mas depende de Cartum”, acrescentou o porta-voz.
A União Africana, promotora das conversas de Adís Abeba, se mostrou no sábado confiante em que os líderes saibam aproveitar esta “oportunidade histórica”.
“Somos plenamente conscientes que as partes devem tomar decisões difíceis (…) Confiamos que os líderes saibam levar esta carga, especialmente em momentos históricos como estes”, afirmou a UA em comunicado.
Al Bashir e Salva Kiir devem resolver outras questões que ficaram suspensas após a independência do Sudão do Sul, como as taxas petrolíferas e a autorização para que os cidadãos de um e outro país possam obter um passaporte para encontrar seus parentes do outro lado da fronteira.
Além disso, os países seguem em desacordo em cinco pontos de sua fronteira e no destino da disputada região de Abyei, além de acusar-se mutuamente de manter grupos rebeldes.
O governo de Juba mantém tensas relações com o de Cartum desde sua independência, que chegaram a seu pior momento em janeiro, quando o Sudão do Sul freou totalmente a produção de 350 mil barris de petróleo por dia.
No início de setembro, após a reunião do Conselho de Segurança, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Susan Rice, já advertia do “risco que se reinicie um conflito aberto” devido à rejeição de Cartum a aceitar uma zona desmilitarizada com seu vizinho do sul.