Se dependesse de Dorival Flizcowski Soares, a raça humana não teria sobrevivido a Adão. ?Sempre digo que se eu morasse sozinho no Paraíso, nunca teria pedido a Deus para me criar uma companheira?, afirma o aposentado de 64 anos, que nunca foi casado. Dorival é o que pode se chamar de um solitário convicto. Quando não está em seu apartamento em Curitiba, onde passa a maior parte do tempo lendo ou escrevendo poesias -sua verdadeira paixão – gosta de ir pescar no rio Iguaçu. Sozinho, claro.
Dorival diz não se importar em estar só. Até prefere. A razão ele afirma ser difícil de explicar. Não se considera um tímido, mas também não é um extrovertido popular. ?Até que me dou bem com as pessoas que convivo, mas não me convide para sua festa de aniversário?, avisa. Acima de tudo, parece não se importar em viver só. ?Mesmo vivendo sozinho não quer dizer que sofro de solidão?, explica.
Mesmo destoando nas razões, o aposentado faz parte de um numeroso grupo de pessoas que tem extrema dificuldade em se relacionar: os solitários. ?Na sociedade de hoje, cada vez mais pessoas são individualistas e se sentem cada vez menos amadas?, diz a psicóloga Nelly Kirsten. No caso de Dorival, a psicóloga acredita ser uma escolha. ?Acho que existem pessoas que escolhem ficar sozinhas e vivem muito bem assim.? Para Kirsten, a explicação de tal comportamento é simples: ?Existem pessoas que só encontram a felicidade quando estão com elas mesmas?.
No lado inverso da moeda estão os solitários que, diferente de Dorival, se importam em estar só. ?Poucas pessoas procuram o consultório apenas motivadas pela solidão. Normalmente o sintoma aparece ligado a algum outro comportamento, como a depressão?, diz a psicóloga. Ela acrescenta que a depressão, inclusive, é o que mais leva pessoas ao seu consultório. ?Não quer dizer que todo solitário é depressivo, mas a doença tem como característica o isolamento.?
A psicóloga conta que a solidão, assim como no caso de Dorival, não tem relação com estar ou não entre mais pessoas. ?A pessoa pode estar em uma festa, rodeada de pessoas e se sentir muito só, ou estar numa montanha por anos a fio e estar muito bem.? Em sua avaliação, completa a terapeuta, a raiz do problema está no inconsciente. ?Por vezes a solidão já começa numa rejeição intra-uterina ou numa gestação não planejada. E isso a pessoa já sente na barriga da mãe.?
Soluções
A psicóloga avalia que com a quantidade de possibilidades de comunicação existentes atualmente, é um contra-senso haver pessoas se sentindo sozinhas. ?Essas pessoas até mesmo procuram desesperadamente novas formas para se encontrarem, como a internet. Mas de uma forma desesperada e periogosa?, diz. Kirsten explica que se isolar e passar a ter autopiedade, lembrando apenas de coisas negativas e frustrantes, apenas aumenta a solidão. ?Quanto se relaciona a felicidade a fatores externos à pessoa, é mais difícil se sentir feliz.?
Uma maneira de aliviar os sintomas, diz a psicóloga, é procurar se dedicar a outros. ?Fazer trabalho voluntário, ajudando pessoas que também tenham algum problema. Se sentir útil é uma necessidade do ser humano.?