1. Natal da infância
Naquele tempo o tempo não andava.
Olho o passado. E sinto, e vejo, e lembro
que o tempo era um rio, mas de lava
pastosa. De janeiro até novembro
o tempo parecia que parava,
adormecido. Ah, como relembro
aquele tempo morto, aquela cava
inquietação à espera de dezembro!
Subitamente, então, sonho aguardado,
a noite de Natal acontecia:
a sala era um presépio iluminado,
e nos olhos de minha mãe havia
não sei que brilho mágico, encantado,
que transformava a noite em claro dia…
2. Natal de hoje
É Natal novamente. Mas quem sabe
o seu significado mais profundo?
O presépio é pequeno e nele cabe
Aquele que é maior que o próprio mundo.
Em estábulo pobre, em manjedoura
humilde e simples, Deus se fez menino.
De olhos azuis, talvez, cabeça loura,
lembra o sol a dormir no colo fino
de Maria, que vela o sono Seu.
Cantam lá fora os anjos, pois Belém
é nesta noite a sucursal do céu.
Emanuel – Jesus – nasceu. Mas que,
esquecido da infância que morreu,
vê naquela Criança o Sumo Bem?