Derrotado nas urnas em duas oportunidades, Pedro Sánchez, de 46 anos, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), venceu ontem a queda de braço no Parlamento da Espanha contra o primeiro-ministro Mariano Rajoy e assumirá o comando da quinta maior economia da União Europeia. A moção de censura, manobra política que viabilizou a queda do premiê, foi a primeira bem-sucedida desde a redemocratização do país, em 1977.

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Eleito pelo Parlamento como chefe de governo em dezembro de 2011, Rajoy vivia desde 2016 uma situação instável. Sem maioria no Legislativo, contava com a abstenção da legenda centrista Ciudadanos e de partidos nanicos para se manter no poder.

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A situação lhe permitiu enfrentar a crise da Catalunha, em 2017, mas se tornou insustentável desde 24 de maio, quando a Audiência Nacional, a mais alta corte de Justiça, condenou o Partido Popular (PP), do qual é o líder, e 28 de seus altos dirigentes em um processo por corrupção e financiamento clandestino de campanhas eleitorais – o caso Gürtel.

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A decisão judicial abriu o caminho para que Sánchez propusesse a moção de censura, ferramenta dos sistemas parlamentaristas europeus que permite contestar um governo. Por 180 votos a favor e 169 contrários, o premiê conservador foi derrubado pelo Parlamento. “Foi uma honra ter governado a Espanha”, afirmou Rajoy, antes da votação que formalizou sua queda. “Entrego uma Espanha melhor do que encontrei. Que meu substituto possa dizer o mesmo.”

Em seu discurso, Sánchez prometeu abrir “uma nova página na democracia da Espanha”. “Queremos dignificar uma democracia sólida, forte e com instituições exemplares.”

Tão logo a votação foi encerrada, recebeu uma salva de palmas dos deputados presentes e os cumprimentos de Pablo Iglesias, líder do partido de esquerda radical Podemos. “Hoje tivemos uma grande notícia. Estamos orgulhosos de poder enviar o Partido Popular à oposição, onde devem estar”, afirmou Iglesias, colocando-se à disposição de Sánchez para participar de uma coalizão de governo. “Espero que Sánchez seja capaz de armar um governo forte e estável e não pretenda governar com 84 deputados.”

Por ora, a possibilidade de aliança ainda segue em aberto e não se descarta a possibilidade de que o PSOE inicie sua gestão sem formalizar o apoio do Podemos. Mas Sánchez já manifestou o interesse de contar com o apoio de outros partidos, por entender que o bipartidarismo no Parlamento chegou ao fim. Mesmo uma eventual coalizão com o Podemos será minoritária, com 84 votos dos socialistas, 71 do Podemos e partidos nanicos, o grupo chegaria a 156 votos, de um total de 350 deputados.

A posse de Sánchez ocorrerá às 11 horas deste sábado, , depois de o rei Felipe VI, na condição de chefe de Estado, oficializar sua nomeação ao posto de premiê. Embora sofra pressões do líder do Ciudadanos, Albert Rivera, para convocar eleições para o mais breve possível, o socialista manifestou a intenção de comandar uma coalizão até o fim da legislatura, em 2020.

Ex-professor de Economia, conhecido como El guapo (bonito, em espanhol), Sánchez comandou o retorno do PSOE ao governo, após Felipe González (1982-1996) e José Luis Rodríguez Zapatero (2004-2011). Contestado no interior da legenda após suas derrotas nas eleições de 2015 e 2016 – quando elegeu apenas 84 deputados -, Sánchez chegou a ser derrubado do cargo de secretário-geral do partido, mas retomou o poder pelo voto dos militantes adotando uma linha social-democrata mais à esquerda do que seus predecessores.

Ao longo da crise catalã, apoiou a estratégia de linha dura de Rajoy contra os independentistas, mas soube construir uma linha de diálogo, o que lhe permitiu contar com os votos dos partidos catalães e bascos para chegar ao poder nesta sexta.

Lidar com o desafio separatista na Catalunha será, ao que tudo indica, o maior desafio de sua gestão. Sem maioria no Parlamento, Sánchez não terá os votos para aprovar a reforma do sistema territorial, adotando medidas de caráter federativo.

Embora tenha sido evasivo sobre seu programa de governo, ele deve iniciar sua gestão desfazendo atos impopulares do governo Rajoy. Segundo o cientista político Fernando Vallespin, da Universidade Autônoma de Madri, uma das primeiras medidas seria revogar a reforma da legislação do trabalho, destinada a flexibilizar as relações trabalhistas, mas acusada por seus detratores de tornar o mercado precário e causar efeitos contraproducentes à economia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.