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Socialistas ampliam poder no Congresso português, mas dependerão de alianças

O Partido Socialista (PS) de Portugal, do atual primeiro-ministro, António Costa, venceu neste domingo, 6, as eleições legislativas e ampliou sua presença no Congresso. Ainda assim, não obteve as 116 cadeiras que lhe garantiriam a maioria absoluta e precisará se unir a outras legendas. O mais provável é uma reedição da “geringonça”, apelido dado à união de partidos de esquerda que permitiu aos socialistas governar nos últimos quatro anos.

O PS ficou com 36,65% da preferência do eleitorado, o que lhe rendia 106 das 230 cadeiras do Parlamento. O Partido Social-democrata (PSD), o principal de oposição, tinha 27,90% (77 cadeiras).

Na prática, Costa precisará recorrer aos demais partidos de esquerda do Parlamento para governar, como fez em 2015. Ele então foi derrotado nas urnas, mas assumiu o governo após convencer o Bloco de Esquerda e a coalizão entre o Partido Comunista de Portugal e Os Verdes a se juntarem a ele.

Naquela ocasião, seus adversários diziam que a “geringonça” se desintegraria em pouco tempo. Quatro anos depois, a aliança é motivo de orgulho para Costa. E ele se tornou algo raro na Europa: chefe de um governo socialista em um país com economia robusta. Em contraste, na vizinha Espanha, Pedro Sánchez, o primeiro-ministro socialista interino, enfrentará novas eleições em novembro, depois de meses de negociações infrutíferas para que fosse confirmado no cargo pelo Parlamento.

“Costa teve um pouco de sorte – Portugal saiu do programa de resgate financeiro, houve um boom na indústria do turismo, a economia começou a crescer – mas ele também foi responsável por sua sorte”, disse Eunice Goes, professora de política portuguesa na Universidade de Richmond, no Reino Unido.

No final de 2015, Costa prometeu pôr fim aos anos de austeridade exigidos pelos credores internacionais em troca da concessão de um resgate de € 78 bilhões a Portugal durante a crise financeira. Mas o premiê demonstrou-se adepto da disciplina fiscal, segurando até mesmo investimentos em setores como saúde para aproximar Portugal de um orçamento equilibrado.

O déficit foi reduzido de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 para 0,4% no final de 2018. E a economia portuguesa ultrapassou a maioria dos seus parceiros europeus, enquanto o desemprego caiu quase pela metade, para pouco menos de 7%.

A reviravolta fiscal foi reconhecida também internacionalmente. Em 2017, o ministro das Finanças de Costa, Mário Centeno, foi eleito presidente do Eurogrupo, o corpo de ministros das Finanças que define políticas na Zona do Euro.

A campanha aparentemente tranquila de Costa para a reeleição, no entanto, foi abalada por um escândalo envolvendo seu ex-ministro da Defesa, José Alberto Azeredo Lopes, indiciado no mês passado por encobrir o roubo de granadas e outras armas de um depósito do Exército em junho de 2017. Azeredo Lopes nega as irregularidades.

Experiência

Costa é ex-prefeito de Lisboa, cidade que foi transformada pelo crescente fluxo de turistas e investidores estrangeiros, muitos dos quais se tornaram residentes em Portugal para se beneficiar de incentivos fiscais oferecidos a estrangeiros. A reforma de edifícios antigos em Lisboa e em outras cidades também elevou os preços dos imóveis e deu margem para debates sobre a crescente desigualdade no país, especialmente sobre como Portugal se preparará para uma futura desaceleração econômica mais ampla na Europa.

Sergio Sambento, dono de um café em Lisboa, disse prever que passado o período eleitoral os portugueses terão “uma péssima surpresa para a economia”. “(O turismo e os investidores estrangeiros) nos trouxeram o oxigênio necessário nos últimos anos, mas sabemos que as coisas podem mudar rapidamente”, afirmou.

Este ano, motoristas que transportam combustível fizeram greves que forçaram o governo de Costa a tomar medidas de emergência. Enfermeiras e outros profissionais de saúde também protestaram sobre suas condições de trabalho. A agitação estremeceu as relações entre o premiê e seus parceiros de esquerda, que o acusaram de transformar Portugal em “garoto-propaganda” da disciplina fiscal na Europa, em vez de investir mais em serviços públicos.

Embora a vitória de Costa neste domingo fosse dada como certa mesmo antes do início da votação, os eleitores parecem ter preferido mantê-lo sob o olhar atento dos parceiros em outra aliança. “Os eleitores portugueses são cautelosos com governos que têm muito poder”, disse Eunice. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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