Site revela ?podres? dos homens

Não há limite para o setor de serviços quando o veículo em questão é a internet. Imagine, então, quando essa prestação tem a ver com o campo amoroso. Naosaiacomele.com é um site criado por uma paulista que, sem querer, acabou fazendo sucesso entre a mulherada. Lá, é possível postar e visualizar gratuitamente o perfil de homens que em algum momento pisaram na bola em seus relacionamentos. Esta proposta anima as internautas a procurar na rede alguma informação sobre seus pretendentes antes de considerá-los aptos a ocupar o posto de donos de seus corações.

A inspiração à criação do site foi o portal americano dontdatehimgirl.com (literalmente, ?não saia com ele, garota?). O objetivo é propiciar um guia para consultas sobre homens que já causaram algum mal a uma mulher e, assim, esboçar uma vingança em cadeia mundial. ?Achei que um site desses no Brasil seria febre, principalmente levando-se em conta o perfil do brasileiro, que adora um ?bafon? (ou bafão, confusão, escândalo)?, diverte-se a criadora, Amber Filgueiras, advogada de 31 anos que mora em São Paulo. ?Mas achei o site americano um pouco careta e minha idéia era fazer algo que fosse uma forma de ?vingança?, mas com mais humor?, ressalva.

A brincadeira, entretanto, às vezes dá lugar a denúncias sérias, como casos de estelionato e golpes. ?Mas nesses casos mais graves é difícil darmos credibilidade porque não tenho como averiguá-los, muito menos provas de que ocorreram de verdade?, afirma Amber. Os homens muitas vezes também podem se sentir ofendidos pelas esculhambações femininas, geralmente ilustradas por fotos. Nesse caso, a mediadora adverte: ?Existe um link onde o cara que foi denunciado pode acessar e escrever um e-mail solicitando a retirada do perfil, que é prontamente atendido?.

No ar desde agosto do ano passado, o naosaiacomele.com recebe atualmente cerca de mil acessos diários. Nele, constam informações de homens de todo o País, com cerca de 200 perfis cadastrados. Só de Curitiba são dez, mas há mais paranaenses. ?O engraçado é que nem sempre os homens defendem os denunciados e as mulheres, na grande maioria, comentam as denúncias pra dar um ?puxão de orelha? na menina. O lugar- comum mesmo é que, quem faz a denúncia, tem que estar preparado pra receber críticas que, no geral, são muito acertadas?, acredita Amber.

No que se refere à repercussão, bem… Tem de tudo. ?Muita gente não gosta, entre homens e mulheres. Mas a maioria (das mulheres) manda e-mails pra dar parabéns e dizer que um site assim era o que faltava na vida delas. Vez ou outra até comentam num perfil que conheceram o cara e que ele tinha o mesmo papo com outras mulheres.?

Comentários são passíveis de punição

Reprodução

Moderador da página não é responsável pelas declarações.

Mas a advogada Camilla Jimene, do escritório paulistano Opice Blum, especializado em Direito Eletrônico, discorda da falta de punição para estes casos. Segundo ela, quem faz comentários do tipo na internet pode, sim, pagar pelo que fez. ?Se eu falar mal de alguém em revista, jornal ou internet, vai haver responsabilidade cível e penal da mesma maneira?, afirma.

Quem responde por isso, diz a advogada, é o autor do comentário. ?As pessoas pensam que são anônimas porque seria impossível rastreá-las, mas não é. Cada vez que a gente acessa a rede, recebe número de IP (protocolo de internet). A partir daí, consigo identificar de onde partiu o acesso e o ilícito. Se eu tiver os registros eletrônicos que esse site tem, eu consigo chegar à pessoa?, explica.

É nesse ponto que entra o moderador do site, que não vai pagar pelos comentários alheios, os quais não são de sua responsabilidade, mas que, sob um mandado judicial, tem obrigação de fornecer a identificação digital de quem postou o comentário. ?Com esse dados, vamos atrás do provedor de acesso e movemos uma segunda ação judicial para que a operadora nos forneça os dados do usuário.?

De acordo com Camilla, comentários como alguns dos verificados no site podem implicar em processos por dano moral. ?Dependendo, cabem ainda calúnia, injúria e difamação. O risco é grande, tanto na esfera cível quanto penal?, adverte. As indenizações que cabem a esses casos variam conforme o crime que o autor praticou e os danos gerados pelo comentário.

Denunciados se defendem

Há quem desminta os comentários e considera-os uma injúria, mas existem também os que riem das supostas frustrações femininas traduzidas em termos chulos contra seus ex-amados. L.B., 18, é um dos paranaenses postados no site. Dentre as acusações contra ele, consta que ?te troca por amigas? e ?tem ejaculação precoce?. ?Fui saber meses depois, uma amiga de um amigo meu contou para ele?, lembra o denunciado.

A reação imediata foi indignação. ?Fiquei meio bravo, mas depois achei engraçado, porque não tem nada a ver, não leva a nada?, diz. ?Até mostrei para os meus amigos e a gente dava risada.? Ele desconfia que tenha partido de uma ex-namorada o comentário e, apesar dos pesares, vê até um lado positivo na história. ?Há comentários de meninas que gostariam de me conhecer; acabou tendo efeito contrário.?

Outra ?vítima? é o jornalista R.L., 27 anos. Ele, no entanto, não achou a brincadeira engraçada. A denúncia dava conta de que teria usado o nome da ex-namorada para aberturas de crédito e até roubado dinheiro dela. Informações que, segundo o denunciado, são uma grande mentira. ?O pior foi minha noiva, que viu e não gostou, claro. Ainda por cima colocaram uma foto minha com ela, que não tem nada a ver com a história?, reclama. ?Fiquei indignado, nunca esperei acontecer isso comigo.?

O jornalista diz que já pensou até mesmo em acionar a Justiça na história. ?Cogitei fazer isso depois de mandar quatro e-mails solicitando a retirada e não ser atendido. Mas meu advogado disse que posso entrar com um processo, gastar dinheiro e não valer a pena. Não há garantias.?

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo