O vazamento de 91 mil registros secretos dos Estados Unidos sobre a guerra no Afeganistão pelo site Wikileaks.org é uma das maiores divulgações de material não autorizado da história militar norte-americana.

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Os documentos cobrem muito do que o público já sabe sobre o tumultuado conflito de nove anos: as forças especiais norte-americanas têm matado militantes sem julgamento, afegãos têm sido mortos por acidente e oficiais norte-americanos têm ficado furiosos com a suposta cooperação entre a inteligência paquistanesa com vários grupos insurgentes que tendem a matar norte-americanos.

O WikiLeaks divulgou os documentos ontem. O jornal New York Times, o britânico Guardian, além da revista semanal alemã Der Spiegel, tiveram acesso anterior aos registros. A divulgação foi instantaneamente condenada por autoridades dos Estados Unidos e do Paquistão como sendo tanto potencialmente danosa como irrelevante.

Os relatórios vazados incluem descrições detalhadas de ataques realizados por uma unidade secreta de operações especiais norte-americana chamada Força-Tarefa 373. Ela é usada pelas autoridades norte-americanas contra aquilo que consideram importantes alvos insurgentes e terroristas. Algumas das ações resultaram na morte não intencional de civis afegãos, segundo o documento.

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Força-tarefa

 

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Durante a busca e assassinato do combatente líbio Abu Laith al-Libi, descrito nos documentos como um graduado comandante militar da Al-Qaeda, o número de mortos relatados é de seis combatentes inimigos e sete não-combatentes, todos crianças. A força-tarefa Force 373 selecionava seus alvos de uma lista de 2 mil integrantes graduados do Taleban e da Al-Qaeda, colocados numa relação “mate ou capture”, informou o Guardian.

O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, general Jim Jones, disse que a divulgação “coloca as vidas de norte-americanos e de nossos parceiros em risco”. Em comunicado, ele destacou que os documentos descrevem um período que vai de janeiro de 2004 a dezembro de 2009, compreendendo a maior parte do governo de George W. Bush. O período é anterior ao anúncio de Obama de uma nova estratégia para o Afeganistão.

O embaixador paquistanês em Washington, Husain Haqqani, concordou com Jones, dizendo que os documentos “não refletem a atual realidade dos campos de batalha”, onde seu país e Washington estão “conjuntamente se esforçando para derrotar a Al-Qaeda e seus aliados do Taleban”.

Espionagem

Os Estados Unidos e o Paquistão destacaram grupos de analistas para examinar os documentos colocados na internet, para avaliar se suas fontes ou localizações estão em risco. O The New York Times disse que os documentos revelam que pouco tempo atrás havia muito menos harmonia nas trocas entre Estados Unidos e Paquistão.

O diário diz que “avaliações rasas da inteligência”, feitas por militares de baixa patente, sugerem que o Paquistão “permite que representantes de seu serviço de espionagem reúnam-se diretamente com o Taleban, em sessões secretas estratégicas, para organizar redes de grupos militantes que lutam contra os soldados norte-americanos no Afeganistão, e até mesmo traçam planos para assassinar líderes afegãos”.

O Guardian, porém, interpretou os documentos de maneira diferente, dizendo que eles “falham em fornecer informações incriminatórias” de cumplicidade entre os serviços de inteligência paquistaneses e o Taleban.

O WikiLeaks disse que a divulgação do documentos “não inclui detalhadamente organizações altamente secretas”, e que “adiou a divulgação de cerca de 15 mil relatórios” como parte do que chamou “um processo de minimização de danos exigido pela fonte”. Mas disse que vai publicar os documentos mais tarde, provavelmente com a edição do material.