Sinais de lontra em Santa Felicidade

A presença de um animal raramente encontrado em áreas urbanas foi identificada em uma área verde localizada dentro do bairro de Santa Felicidade, em Curitiba. Trata-se da lontra (Lutra longicaudis), cuja pegada foi visualizada por especialistas dentro da Reserva Cascatinha, considerada a primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPNM) do Brasil.

?A pegada da lontra é inconfundível, pois ela tem uma membrana entre as unhas que a ajuda a nadar. Ainda não conseguimos ver o animal na reserva, mas a pegada é prova de que ele já habitou ou já passou pelo local?, diz o biólogo do Museu de História Natural do Capão da Imbuia, pertencente à Prefeitura de Curitiba, Vinícius Abilhoa.

A lontra está nas listas de espécies ameaçadas de extinção no Estado, elaborada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), e no País, realizada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Considerada semi-aquática (vive na terra e na água), ela costuma habitar áreas florestais próximas a rios ou mesmo ao mar.

?A RPPNM Cascatinha é uma área de mata ciliar bastante preservada, por onde passa um afluente do Rio Cascatinha. Talvez por isso a lontra já tenha sido verificada por lá, pois ela gosta de locais com bastante vegetação onde possa de proteger. Além disso, por estar localizada em Santa Felicidade, a reserva está relativamente perto da Serra do Mar?, afirma Vinícius.

Pertencente à ordem dos carnívoros, a lontra é um mamífero que pode se alimentar de peixes, crustáceos, anfíbios, pequenos mamíferos, insetos e aves, dependendo do local onde viva. Ela tem ocorrência no México, na América Central e na América do Sul. No Paraná, além da RPPNM, ela já teve sua presença identificada em cidades litorâneas, como Morretes, Paranaguá e Guaraqueçaba; em diversos pontos dos Rios Paranapanema e Paraná, e em áreas preservadas de Curitiba e Região Metropolitana, como nos municípios de Quatro Barras e Piraquara, nas proximidades da represa do Passaúna e do Rio Miringuava (situado na região sul da capital).

São dois os motivos que fizeram com que a espécie se tornasse ameaçada de extinção. O primeiro deles é a caça, que atualmente não é tão freqüente, mas que no passado teve grande influência sobre as populações de lontra. Antigamente, o animal era bastante capturado por seres humanos em função de sua pele. O segundo motivo é a destruição das áreas de mata ciliar.

?As destruições de habitats naturais influenciam todas as espécies da fauna. As alterações ambientais fazem com que os animais enfrentem escassez de alimentos ou mudanças de hábitos alimentares e deixem de ter onde fazer suas tocas e se reproduzir?, finaliza o biólogo.

Outros exemplares habitam o lugar

Além da lontra, a RPPNM Cascatinha abriga outros exemplares de fauna. Foram identificados no local diversos animais terrestres e aquáticos. Só de aves, foi registrada a presença de cinqüenta espécies, sendo as mais comuns o joão-de-barro e o sabiá, normalmente encontrados em ambientes urbanos. Entre os pássaros mais exóticos, foi visualizada a gralha-azul, considerada símbolo do Paraná.

No que diz respeito a anfíbios, foram registradas duas espécies comuns. De peixes, foram vistos no córrego do Rio Cascatinha o acará e o barrigudinho. Já em relação a mamíferos, foram identificados, além da lontra, gambás, serelepes, morcegos, roedores e pegadas de tatu. Além disso, foram percebidos sinais da presença do ouriço-cacheiro, também tido como raro em ambientes urbanos. (CV)

Visitação começa só em 2009

A Reserva Cascatinha deve ser aberta à visitação do público em 2009. A área, que tem vinte mil metros quadrados de extensão, pertence ao engenheiro Eurico Borges dos Reis e a seu filho, o acadêmico de Direito Ricardo Borges dos Reis. Por iniciativa dos dois, foi transformada em área de preservação em 2004. No último mês de março, três meses depois de o prefeito de Curitiba, Beto Richa, aprovar uma lei criando as RPPNMs, foi oficialmente declarada a primeira reserva do tipo na capital.

Além de animais, o local abriga nascentes do Rio Cascatinha, que é um dos principais afluentes do Rio Barigüi, e diversas espécies de mata nativa, como pinheiro, cedro, peroba e canela. Ao transformar o espaço em RPPNM, os proprietários recebem incentivos fiscais e monetários. Entretanto, também se comprometem a cuidar da preservação do lugar.

Eles devem manter a área cercada, remover resíduos sólidos do córrego, enriquecer o bosque e permitir que a Secretaria Municipal do Meio Ambiente desenvolva atividades de educação ambiental no lugar. Além disso, podem criar programas voltados ao ecoturismo. ?A iniciativa é bastante positiva e pode ser replicada, sendo que pessoas de outros estados e mesmo de municípios da Região Metropolitana já têm se mostrado interessadas?, comenta Eurico. (CV)

Errata

Na última edição desta página, publicamos que o cachalote tem 23 metros de comprimento e as orcas têm cerca de 18 metros. O correto é afirmar que as orcas medem de 6 a 10 metros e o cachalote até 18 metros. Já o nome científico do golfinho-caldeirão é Tursiops truncatus.

As informações são da bióloga do Instituto de Pesquisa Cananéia, Gláucia Sasaki.

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