Começo por afirmar que nãopretendo fazer humorismo barato. O assunto é sério. (Por favor, não riam…)
Um dos pesadelos que mais avassalam o homem, a meu ver injustificadamente, é o de ser ? ou vir a ser ? vítima da calvície. Ou, para usar uma expressão mais comum, o de ficar careca.
A ?doença?, embora amena, é contagiosa: muitas mulheres já a estão enfrentando ou se preocupando com ela. Nos dois casos, porém, há diversos remédios, mais ou menos charlatanescos, disponíveis na praça. Mas um só funciona de modo infalível: a peruca…
A propósito, lembro que o autor de um famoso samba carnavalesco, certamente vítima da calvície incipiente, galopante ou definitiva houve por bem dar-lhe um título saboroso: ?é dos carecas que elas gostam mais…?.
Se é indubitável a calvície desse autor cujo nome não lembro, o mesmo não pode ser dito com relação à veracidade da tese que esposa e defende. Pelo menos os detentores de abundantes cabeleiras a consideram esdrúxula. Se não ridícula e risível.
Antes, muito antes dele, outro poeta, incomparavelmente mais importante, se debruçou sobre o tema. Refiro-me a Shakespeare. Na sua peça Comédia de erros, o bardo de Stratford-on-Avon põe na boca de um personagem, Brômio, estas palavras: ?o que o tempo nega aos homens em cabelo, dá-lhes em inteligência?.
Careca, infinitamente careca, o gênio inglês falava em causa própria. Mas quem ousará negar que ele tinha todas as razões do mundo para fazê-lo? Para ele certamente não valia o aforismo que Cervantes coloca nos lábios do Cavaleiro da Triste Figura, o imortal Dom Quixote de la Mancha: ?elogio em boca própria é vitupério?.