Brasília
– Transformar a taboca ? uma espécie de bambu típica da Amazônia – em móveis, peças de decoração e edificações. Este é o objetivo do Projeto Taboca, uma parceria entre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Universidade de Brasília (UnB) e Serviço Nacional da Indústria (Senai), que busca a implantação de um pólo de desenvolvimento sustentável de móveis ecológicos no Acre utilizando mão-de-obra dos seringueiros.Dez seringueiros da região de Assis Brasil, a 320 quilômetros de Rio Branco, passaram três semanas em Brasília aprendendo técnicas de corte, transporte, armazenagem, manuseio, montagem e fabricação de móveis usando a matéria-prima abundante e subaproveitada da região.
Agora eles retornam ao Acre e são responsáveis pela disseminação do conhecimento em suas comunidades, para que elas possam aplicá-lo como complemento de renda, na confecção de móveis, utensílios domésticos ou até mesmo na construção de casas. “Testamos a taboca em laboratório especializado e comprovamos que a espécie pode ser usada com segurança e eficácia na fabricação das peças e edificações”, garante o professor e responsável pelo treinamento do grupo, Jaime Almeida.
As primeiras peças produzidas nas oficinas do Senai foram desenhadas pelo arquiteto Estevam Strauss, do Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais (CNPT) do Ibama, e servirão de protótipo para o pólo moveleiro de Assis Brasil. “Não esperamos ter uma produção muito grande, mas queremos que esse projeto estimule a mão-de-obra local, gere renda para as populações da reserva e diminua a demanda pelo consumo da madeira”, afirmou o arquiteto.
Para consolidar a implantação do pólo de produção de móveis ecológicos em Assis Brasil, os idealizadores do projeto montarão uma oficina regional e acionarão o Sebrae para cuidar da parte comercial. A idéia é instalar a oficina num galpão que será construído com vigas laminadas produzidas a partir da taboca. A matéria-prima não será problema: abundante na região, a taboca tem um ciclo de regeneração rápido, o que facilita seu manejo integrado sem provocar danos à natureza.
Os seringueiros, e futuros moveleiros, aprenderam a fabricar mesas, cadeiras estantes, estações de trabalho para computador, forros, divisórias e vários objetos de decoração. O treinamento, que começou no dia 11 e termina hoje, incluiu aulas sobre ecologia da taboca, leitura e interpretação de desenhos e noções de escala. “Eles estão capacitados para fabricar móveis integrados com a proposta de desenvolvimento sustentável”, garante Strauss.
Três estações de trabalho produzidas durante a oficina serão instaladas no escritório do CNPT, em Brasília, que funcionará como uma espécie de show room para a divulgação das peças. O CNPT pretende mobiliar o escritório com outras peças fabricadas em taboca. Por isso, no começo de abril, três dos dez seringueiros retornam a Brasília para participar, como contratados, do trabalho de confecção das novas mobílias.
Para os dez seringueiros escolhidos para o treinamento e capacitação, o prazer da descoberta de uma outra profissão compensou a ausência e a saudade dos familiares e amigos: “Agora somos seringueiros e moveleiros”. Estevam Strauss entende o motivo de tanta empolgação. “Eles não tinham a mínima idéia de que existia uma jazida de ouro em sua mãos”, conta o arquiteto.
