Diferentemente dos EUA onde tais fatos se repetem com freqüência, no Brasil apenas vez por outra surgem os casos denominados de serial killer ou assassinos seriais. Mesmo assim, neste ano já é o segundo que chega ao conhecimento público. O primeiro, no início do ano, um presidiário foragido e recapturado no Rio Grande do Sul confessou a morte de 12 meninos entre oito e doze anos, a partir de agosto de 2002. Em julho, o do mecânico maranhense acusado da morte de 41 meninos.
Sociólogos, juristas, psicólogos e principalmente psiquiatras buscam respostas satisfatórias para explicar as motivações de criminosos como eles. Em depoimento, um disse que “sentia vontade interna, um vício”; já o segundo que ouvia vozes ordenando para matar e depois era tomado por uma “força exterior”. Seu relato é muito parecido com os da maioria desse tipo de assassino. Segundo a psiquiatra americana Helen Morrison não dá para relacionar o surgimento de assassinos seriais ao sexo. Opinião não compartilhada na literatura e no cinema, repletos de enredos onde traumas sexuais, principalmente vivenciados durante a infância, acabam por gerar distúrbios psíquicos graves, mentes psicóticas autoras de barbáries de tal natureza. Desde Freud também não faltam teses acadêmicas conduzindo para idênticas soluções.
O que nos chama a atenção aqui são as declarações dos acusados sobre vozes, impulsos ora exteriores, ora interiores, etc., indício daquilo que na terminologia espírita denomina-se de obsessões. Homicidas comuns também atribuem seus atos a agentes misteriosos, nomeando-os de Satanás ou Diabo, simbologia utilizada para expressar seres maléficos. Mesmo descontando espertezas próprias ou de advogados, uma análise mais profunda leva à conclusão de que muitos deles estão sendo sinceros.
Há um paralelo com os Transtornos obsessivos-compulsivos, mal que só no Brasil afeta sete milhões de pessoas. As vítimas são assediadas por “pensamentos intrusos” ou idéias recorrentes que causam medo e angústia e para evitá-los, como mecanismo de fuga, desenvolvem comportamentos repetitivos. Freqüentemente a doença leva à depressão, ao alcoolismo e às fobias, causando enormes prejuízos à vida das pessoas. Áreas cerebrais foram apontadas como sua sede e a medicina admite sua incapacidade para eliminar o problema ao reconhecer a impossibilidade de cura. Antidepressivos e psicoterapia podem atenuar os sintomas em até 80%.
Ora, tudo isto tem a ver com o estudo das obsessões espirituais, iniciado por Allan Kardec em meados do século XIX. Nosso mundo mental está em permanente intercâmbio com aqueles que já se despiram do corpo carnal pelo fenômeno da morte biológica. A interação social com os desencarnados é tão ou mais intensa do que entre os encarnados, embora quase sempre despercebida. Regida pela lei de afinidades e sintonia, atraímos ao nosso convívio mental almas que vibram em idêntica freqüência em face do cultivo de idéias e sentimentos similares.
Como nosso planeta está muito atrasado moralmente, natural que prevaleçam os “encontros casuais” com entidades inferiores, num momento de raiva passageira, por exemplo. Mas os maus hábitos prolongados, paixões desequilibradas, os vícios tornam estes espíritos hóspedes permanentes da nossa psicosfera e se comprazem em causar desconfortos físicos e espirituais dos mais variados. Às vezes são seres vingadores, inimigos do passado, que perseguem suas vítimas na atual encarnação. Talvez o caso do maranhense, tido como pessoa afável, risonha e aparentemente inofensiva.
No dia em que no trato das problemáticas humanas íntimas, for considerado o caráter espiritual ali existente, a medicina se habilitará a fazer pelo seu bem-estar muito mais do que tem conseguido até agora. Milhares de indivíduos já foram auxiliados pela fluidoterapia e pelas atividades desobsessivas. Pacientes psiquiátricos recebem tratamento espiritual paralelo ao tradicional e por, não raro, superá-lo em eficácia, evita muitas internações e antecipa a alta de outros tantos. Também efetua a profilaxia preventiva de um número incalculável de outros comportamentos anti-sociais, ameniza sofrimentos, equilibra mentes, contribui na manutenção da estrutura familiar, enfim presta uma série superlativa de benefícios.
A violência pode ser diminuída, o homem pode ser mais feliz, podemos ter mais paz. Para tanto, basta à ciência oficial ousar e romper com certos paradigmas. O principal deles é tratar o homem como um espírito imortal temporariamente encarnado num corpo físico e não um corpo carnal governado por uma mente abstrata e quase desconhecida, produto de secreções cerebrais.
(Coluna mantida pela Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná. E-mail: adepr@adepr.com.br )