Seriados americanos abordam a mediunidade

Na nova safra de programas do canal Sony de TV a cabo estrearam dia 7 de novembro dois seriados que despertam interesse pelo inusitado do tema desenvolvido. Supõe-se que propositadamente a administração do canal decidiu, ao menos no Brasil, colocar no ar os dois no mesmo dia da semana e em horário seqüencial. Ghost Whisperer, literalmente ?Fantasma confidente? ou ?sussurrante? teve seu primeiro episódio veiculado às 19h e 23h, seguido por Médium, às 23h e 24h.

Não é de hoje que os estúdios americanos têm se ocupado com assuntos relativos a fenômenos envolvendo a comunicação entre vivos e os chamados mortos. Possuímos uma relação composta por quase uma centena e meia de filmes produzidos nas últimas décadas que tratam deste e outros temas como a reencarnação, vida no além, etc. A novidade fica por conta do formato em série de episódios e conta-se que Ghost Whisperer, na estréia da temporada americana, teve milhões de espectadores. Embaladas em parte por uma quase necessidade de auto-afirmação da realidade espiritual como forma de manter vínculos afetivos que a morte teria desfeito, as pessoas vão muito além do cultivo de esperanças religiosas, pois querem também compreender o sentido da vida na terra e tantas questões que deixam aturdidos todos aqueles que se negam a passar por aqui como simples alienados espirituais.

No episódio de Ghost Whisperer a personagem central é uma clarividente, casada com um paramédico que, por tê-la conhecido já com o dom mediúnico – ainda criança conversara com o espírito do avô durante o velório -, aceita perfeitamente a ocorrência dos fenômenos e as repercussões disso na vida de ambos. A trama principal envolve o espírito de um sargento americano morto na Guerra do Vietnã e dado pelo Exército como desaparecido. Ao aparecer-lhe visualmente, fardado, clama por socorro, diz estar perdido num vale e lamenta não poder retornar para junto da esposa grávida.

A médium então, de posse de mais alguns detalhes, procede investigações que a levam até o filho do morto, ele também já casado e com a esposa grávida. O rapaz conta que a mãe tivera o cuidado de transmitir uma imagem muito positiva do pai e que havia morrido há pouco tempo. Mas num segundo encontro, ao ouvir da médium que ela comunicava-se com o espírito do pai, toma-a por charlatã e a expulsa de sua casa. Porém voltará a procurá-la depois de constatar a veracidade de informações sobre datas e local onde o corpo do pai estaria.

No final, a clarividente intermedia, na frente de casa, sem transe ostensivo, o encontro de pai e filho. No sepultamento do corpo, afinal encontrado, e já com o neto nascido, o espírito do sargento, orientado e consolado, vê aquilo que nem a médium conseguiu perceber. Uma luz intensa e nela a esposa convidando-o para a ?travessia?, liberando-se da dimensão terrena.

Esta travessia é o único ponto que não condiz inteiramente com as informações fornecidas a respeito pelos espíritos que atuavam com Allan Kardec. Mais recentemente, estudos de EQMs, experiências de quase-morte, levados a efeito por pesquisadores não engajados a qualquer religião, apontam para descrições do ?túnel de luz?, porém, durante o processo de desencarnação e não tanto tempo após. Entretanto, muitas vezes a alma passa tempo mais ou menos longo de perturbação retido à terra porque ignora sua real situação ou por atração junto à família e, uma vez esclarecido, segue o seu caminho no mundo espiritual.

No seriado médium, as faculdades presentes são as mesmas. Tendo também como personagem principal uma jovem mulher, casada e mãe de três filhos, com marido mais cético, ela vê e ouve os espíritos e assim, como estagiária de um escritório de advocacia, acaba ajudando a polícia a desvendar um crime cometido contra um menino de seis anos. O próprio marido, algo incomodado pelos pesadelos que ela tem, pelos quais se apresentam cenas e diálogos envolvendo vários casos, envia o resumo das informações assim obtidas para os responsáveis pelas investigações com a proposta de ou confirmar a realidade das percepções mediúnicas ou determinar o desequilíbrio mental devido ao estresse da esposa.

De um estado distante de onde residem vem o convite para ela esclarecer como ficara sabendo de certos detalhes, mas nos primeiros contatos chega a ser ridicularizada. A passagem de um furacão impede a localização do corpo da vítima, apontada pela médium, mas por outras informações consegue-se obter a confissão do assassino que já se encontrava preso.

O que torna agradável assistir aos dois seriados, especialmente àqueles que como nós esforçam-se por colocar à disposição do público leigo informações que possam contribuir para a compreensão da realidade espiritual, não como artigo de fé ou com pretensões de posse absoluta da verdade, mas como proposta para o exame sério e sem preconceito, é justamente o caráter de honestidade intelectual com que o tema é tratado. A mediunidade, no caso, é vista como uma faculdade psíquica natural que nada possui de doentio ou fantasioso, muito menos se reveste, no contexto, de qualquer conotação de fanatismo ou fraude.

Na verdade, a mediunidade é inerente a todo ser humano, presente em todos os tempos, religiões e culturas, variando de graus mínimos de sutis intuições ou inspirações aos ostensivos a qualquer espectador. Inclui-se aí a psicografia, a psicofonia, as profecias, as visões (fenômenos subjetivos) e os objetivos como o transporte de objetos, a levitação (desconsideradas as prestidigitações), curas com ou sem incisões, as materialização de objetos e seres animados.

Observação final: segundo os produtores, os casos apresentados no seriado Médium, são baseados todos em fatos reais. Vale a pena conferir.

Coluna mantida pela Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná. E-mail: adepr@adepr.com.br.

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