Nas eleições de hoje da Bélgica, pela primeira vez a vitória deve ser de um partido separatista. Segundo todas as pesquisas, a favorita é a Nova Aliança Flamenga (N-VA). Liderada por Bart de Wever, o partido que deve ter 25% dos votos defende o fim da Bélgica, mas de maneira democrática e gradual.
“Não queremos nenhuma revolução”, afirmou De Wever na reta final da campanha, em uma tentativa de acalmar os investidores internacionais. O eixo dos problemas no país europeu é o antagonismo entre Flandres, região mais rica que fala holandês, e Valônia, parte pobre que fala francês. Cada um vive em um mundo próprio: os flamengos leem os jornais da região, assistem à TV flamenga e só podem votar em partidos flamengos. Já os valões são afrancesados, têm hábitos diferentes e também só podem votar em políticos francófonos.
A possibilidade de cisão territorial e a fragmentação da política interna faz do país o mais esdrúxulo da Europa. O cenário fica ainda mais sombrio porque a Bélgica assume, dia 1.º, a presidência rotativa da União Europeia. “Para a UE, o ideal seria que o país estivesse funcionando normalmente, mas as instituições europeias são fortes e o impacto causado pela ausência de um governo durante a presidência da Bélgica não será tão grande”, disse Carl Devos, analista político da Universidade de Gent.
Os valões são 40% da população, mas detêm menos de 25% da riqueza do país. Segundo estimativas oficiais, todo ano são transferidos de Flandres para a Valônia cerca de 15 bilhões, 6% do Produto Interno Bruto (PIB) belga. Alguns flamengos acham muito e citam o caso alemão: após a unificação, a solidariedade econômica entre Alemanha Ocidental e Oriental nunca passou de 3% do PIB.