Os mais recentes comentários do presidente do Sudão, Omar al-Bashir, de que ele respeitará o resultado do referendo no sul do país, são “extremamente encorajadores”, disse hoje o senador norte-americano John Kerry, Democrata pelo Estado de Massachusetts, em visita a Cartum. Kerry ficará a semana inteira no país africano antes do referendo, marcado para domingo.
Ontem, em visita a Juba, capital do sul sudanês, al-Bashir afirmou que comemorará os resultados do referendo mesmo que o sul deseje se separar do resto do país. Al-Bashir prometeu ajudar a construir um Estado seguro, estável e “irmão” se o sul votar pela independência. “O discurso do presidente al-Bashir, bem como seus comentários em Juba feitos ontem, são extremamente encorajadores”, disse Kerry, após reunião na capital sudanesa com o conselheiro presidencial Ghazi Salaheddine.
“Eles são muitos positivos, muitos construtivos e eu acredito que montaram um bom palco para os eventos que começam nos próximos dias”, disse Kerry. O Sudão mergulhou em uma guerra civil que durou duas décadas e deixou um número aproximado de 2 milhões de mortos. O norte, de idioma árabe e religião islâmica, lutou contra o sul, de cultura e religiões africanas e com uma minoria cristã.
Quase quatro milhões de sudaneses sulistas estão registrados para participar do referendo, entre 9 e 15 de janeiro, que dará a escolha aos sudaneses do sul se querem constituir um país independente de Cartum ou desejam continuar unidos ao norte.
“Nós olhamos em frente para um referendo de sucesso, o qual é precursor de uma nova amizade com os Estados Unidos e os outros países”, disse Kerry. O senador, que chefia o Comitê de Relações Exteriores no Senado dos EUA, já fez três viagens ao Sudão.
Em novembro do ano passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou que Washington estendia as sanções econômicas contra o Sudão por pelo menos um ano, porque as circunstâncias que levaram a elas ainda não desapareceram. Kerry afirmou ainda no ano passado que os EUA se ofereceram para retirar o Sudão da lista dos países que patrocinam o terrorismo se o referendo para a independência do sul pudesse seguir em frente sem problemas.
Problemas econômicos
O Sudão enfrenta enormes problemas econômicos, incluída uma inflação galopante provocada pela brusca desvalorização da libra sudanesa nos últimos três meses, e uma grande dívida externa. Esses problemas poderão intensificar ainda mais o desejo separatista do sul. “Certamente, existem desafios enormes no Sudão e isso é algo que nós discutimos hoje”, disse Kerry, hoje, sem entrar em detalhes.
Questionado se os EUA estavam oferecendo ao Sudão qualquer novo incentivo para ajudar o país a enfrentar seus desafios econômicos, Salaheddine respondeu que nada concreto foi proposto. “Nós não vimos muito até agora”, disse o conselheiro de al-Bashir.
“Eles sempre trazem isso quando discutimos a questão do Darfur e nossa futura relação com os EUA. O apoio econômico é mais uma questão bilateral que um problema relacionado ao sul ou a Darfur, mesmo que os EUA queiram que ele esteja conectada a esses temas”, afirmou.
“Eles (os EUA) não retiraram suas políticas. Elas estão sempre em cima da mesa. Mas isso não é o mais importante agora”, disse Salaheddine, acrescentando que a questão mais importante para os EUA no momento é ver se o referendo ocorre na data e conforme foi planejado.
O Darfur, no oeste sudanês, enfrenta uma guerra civil desde 2003, na qual 300 mil pessoas foram mortas e 2,7 milhões tornaram-se refugiadas, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). O governo de Cartum afirma que 10 mil pessoas foram mortas. As informações são da Dow Jones.