Para evitar uma derrota humilhante no Parlamento, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, desistiu nesta segunda-feira, 10, de levar à votação o acordo do Brexit. A medida aumentou a pressão sobre ela, assim como o risco de May deixar o cargo em razão da incerteza sobre a capacidade de seu governo acertar os termos do divórcio com a União Europeia até março – data-limite para o acordo.

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Em pronunciamento à Câmara dos Comuns, May disse que o maior obstáculo para a aprovação do acordo – contestado dentro do próprio partido da premiê – é o tratamento dado à fronteira entre as duas Irlandas quando o Reino Unido deixar a UE.

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O foco do governo nos próximos dias será esclarecer as dúvidas envolvendo o “backstop” – mecanismo que manterá a Irlanda do Norte nas regras aduaneiras da UE mesmo que o bloco e o Reino Unido não cheguem a um acordo final sobre a fronteira com a Irlanda. “Estou determinada a fazer o que estiver ao meu alcance para esclarecer ao Parlamento o que for necessário para concluir esse acordo”, disse May.

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A falta de consenso em sua coalizão para aprovar o pacto e as deserções de ministros contrários ao acordo fortaleceram a oposição trabalhista. “Esse governo perdeu o controle e está em queda livre”, disse o líder opositor Jeremy Corbyn.

Com o apoio do Partido Nacionalista Escocês, do Partido Liberal-Democrata e do partido galês Plaid Cymru, os trabalhistas planejam apresentar uma moção de censura contra May “assim que o pedido tiver mais chances de prosperar”.

Hoje, a oposição teria 307 votos, 13 a menos que a maioria necessária para aprovar a moção. Os trabalhistas acreditam que convencerão os conservadores e o partido norte-irlandês DUP se May não conseguir nenhuma concessão da UE antes de voltar a apresentar o acordo para votação no Parlamento.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, assegurou nesta segunda que não haverá concessões no acordo que já foi negociado com o governo britânico, mas está disposto a ajudar o Reino Unido a aprovar o pacto. Na quinta-feira, os chanceleres da UE se encontram para discutir a crise. Alterações no “backstop” são consideradas improváveis, porque o mecanismo funcionaria como uma espécie de seguro para manter a fronteira aberta entre as duas Irlandas, como prevê o Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa, de 1998.

Com a suspensão da votação, a libra esterlina caiu mais de 1% em relação ao dólar e chegou a seu nível mais baixo em 20 meses.

Indecisão

O futuro de Theresa May no cargo é incerto. Sua força tem sido minada por sua incapacidade de manter o gabinete unido para aprovar o acordo do Brexit. Mesmo que a moção de censura da oposição não seja aprovada, ela pode ser derrubada do cargo pelo próprio Partido Conservador, cuja facção mais eurocética é contrária ao acordo do Brexit por considerá-lo favorável demais à UE.

Esse processo, no entanto, levaria várias semanas. May continuaria no cargo, mas sem força política para tocar a negociação do Brexit. Sem a aprovação do acordo, restariam duas opções à premiê: sair da UE unilateralmente, o que traria danos enormes para a economia britânica, ou convocar um novo plebiscito sobre o Brexit, o que, segundo analistas, poderia afetar a crença nas instituições democráticas do país e levar a protestos de rua.

Nesta segunda-feira, a Corte Europeia de Justiça decidiu que o Reino Unido pode mudar de ideia sobre o Brexit e manter-se na União Europeia. Mesmo enfraquecida no cargo, May continua refratária a qualquer solução que não envolva a aprovação do acordo pelo Parlamento. “Um segundo referendo dividiria o país”, afirmou a premiê. “Eu concluirei o Brexit da maneira que o povo britânico determinou.” (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.