O presidente francês Nicolas Sarkozy pediu à presidente Cristina Kirchner que ajude a "conter" o presidente venezuelano, Hugo Chávez. O motivo deste pedido é evitar que o líder bolivariano cause eventuais turbulências nas delicadas operações que o governo francês está realizando para conseguir a liberação da ex-candidata presidencial colombiana, Ingrid Betancourt, refém da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) desde 2002.
A liberação de Ingrid – que também possui cidadania francesa – tornou-se nos últimos meses um dos principais objetivos da política externa de Sarkozy.
O pedido do presidente francês foi revelado pelo jornal argentino La Nación, que, citando fontes diplomáticas francesas, indicou que as reações temperamentais de Chávez preocupam os governos europeus. Eles temem que o presidente venezuelano coloque em risco a estabilidade da região. Esse temor aumentou recentemente por causa da virulência de Chávez durante as tensões na fronteira entre a Colômbia e o Equador (crise na qual a Venezuela interferiu) por causa das Farc.
A disputa começou com a incursão colombiana no território equatoriano, em 1.º de março. Na ação, foi morto o então número dois das Farc, Raúl Reyes. O governo do Equador rechaçou a invasão territorial, e posteriormente rompeu relações diplomáticas com Bogotá.
O pedido para que Cristina colabore pela "moderação" de Chávez foi realizado na segunda-feira (7), último dia da visita da presidente argentina à Paris. Segundo as fontes, Sarkozy consideraria que a Argentina é um dos países essenciais na América do Sul para manter a estabilidade, graças ao forte vínculo que existe entre o governo Cristina e Chávez.
Além disso, o jornal destaca que Sarkozy, embora considere que Chávez deve "conter-se", também acredita que o sucesso da operação humanitária para conseguir a liberação de Ingrid depende em grande parte do papel do presidente venezuelano. O líder bolivariano é considerado pelo governo francês um ator "crucial e fundamental" na missão de resgate da ex-candidata.
No domingo (6), véspera da reunião com Sarkozy, Cristina participou de uma marcha de protesto pelas ruas de Paris para pedir a libertação de Ingrid. Após a reunião com Cristina, no dia seguinte, o presidente francês prometeu visitar Buenos Aires em 2009.
Antes de partir de Paris, Cristina Kirchner desmarcou uma conversa que teria com os enviados especiais da imprensa argentina à capital francesa. O motivo do cancelamento foi sua reunião com a top modelo Naomi Campbell, que a entrevistou para uma revista britânica de moda.
Guerrilheiros
No domingo, o jornal Clarín, o de maior tiragem na Argentina, citando fontes diplomáticas, indicou que o governo francês está realizando negociações para possibilitar o intercâmbio de guerrilheiros detidos pelo governo colombiano por reféns em mãos das Farc.
Segundo o jornal, no fim de semana circulou a versão de que a Argentina e o Brasil poderiam receber 18 guerrilheiros eventualmente liberados pelo governo colombiano. Cada país receberia um grupo de nove guerrilheiros, de acordo com essa versão.