Aliado à Turquia e respaldado pela posição dúbia da China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem o aval do presidente da França, Nicolas Sarkozy, para sua missão de convencer o Irã a retomar as negociações sobre um acordo com as potências nucleares. Ainda hoje, em visita oficial a Moscou, Lula buscará o apoio de um terceiro membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Rússia, para esse acordo que, em tese, poderá evitar novas sanções contra Teerã.
No domingo, em Teerã, o presidente brasileiro se encontrará com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, e o presidente do Congresso, Ali Larijani. Segundo diplomatas brasileiros, Lula tentará convencer Ahmadinejad a evitar declarações contundentes, como a que fez ontem, quando afirmou que as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) contra o programa nuclear do Irã “não valem um centavo”.
Além dessa iniciativa solitária, uma ofensiva conjunta do Brasil e da Turquia sobre Teerã poderá ocorrer na segunda-feira, quando o premier turco, Recep Tayyip Erdogan, deverá se somar a Lula na abertura da 14.ª Cúpula do G-15, grupo de países em desenvolvimento que caiu no ostracismo na última década e foi convocado por Ahmadinejad.
Do ponto de vista do Brasil e da Turquia, recuos pontuais do Irã e das potências nucleares (EUA, Rússia, China, França e Inglaterra) e Alemanha poderão permitir a conclusão do acordo prevendo a troca de urânio levemente enriquecido do Irã por combustível para a usina de Teerã, fabricante de radiofármacos. Para os dois aliados, esse seria um passo essencial para reconstruir a confiança mútua e impedir o isolamento do Irã.
A questão nuclear iraniana dominará boa parte da conversa de hoje entre Lula e o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev. Assim como a China, a Rússia está sensibilizada pela questão iraniana, por causa da ampla rede de comércio e negócios e da intensa cooperação bilateral, inclusive na área nuclear.