Saques na Argentina podem ter motivação política

Grande número de lojas de diferentes províncias [estados] da Argentina foram saqueadas desde a última quinta-feira (20). De acordo com agências de notícias, o vandalismo deixou dois mortos e mais de cem feridos. Autoridades ligadas à presidenta Cristina Kirchner e os sindicatos que fazem oposição ao governo se acusaram mutuamente pelos saques.

Em Rio Negro, além de saquearem mercados e destruírem lojas, os manifestantes ergueram barricadas nas ruas e enfrentaram forças de segurança com pedras e paus. Em Rosário, autoridades locais informam que dois assassinatos foram cometidos em meio a saques. Além de alimentos, foram roubados eletrodomésticos dos supermercados.

Governo e líderes sindicais trocam acusações pela organização dos saques. O chefe da Casa Civil da Presidência da Argentina, Abal Medina, disse que setores do sindicalismo, opositores ao governo, estão por trás das ações, e que elas são “isoladas e organizadas”. Entre os responsáveis pelos saques estão sindicalistas que apoiaram o panelaço do dia 8 de novembro e lideraram uma greve geral em 20 de novembro, além de uma manifestação na quarta-feira (19) em Buenos Aires.

Em entrevista à agência de notícias inglesa BBC, o analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, disse que a Argentina vive “uma crise mais política do que econômica”. Ela envolve questões locais, como o conflito entre o governo e o Grupo Clarín de comunicação e as disputas do governo com a Justiça. Outra área de atrito é a decisão da oposição de se unir contra a ideia de reforma da Constituição, a fim de impedir espaço à segunda reeleição Cristina Kirchner.

De acordo com a agência de notícias argentina Telam, organizações de direitos humanos têm manifestado repúdio aos ataques ocorridos em supermercados, e pedem que a Justiça encontre os responsáveis “ideológicos e materiais” dos ataques.

A agência argentina informou que uma declaração das Mães e Avós da Praça de Maio associa os saques ao objetivo “de levar o país de volta à Argentina a que não queremos voltar”, e que tais eventos “não parecem espontâneos, mas organizados sugestivamente”. O grupo reúne parentes de presos e desaparecidos durante a ditadura argentina.

A Telam informa que o ministro da Segurança e da Justiça de Buenos Aires, Ricardo Casal, disse que os saques em supermercados “são claramente organizados e premeditados, inclusive por meio de redes sociais”.

O governador da província de Río Negro, Alberto Weretilnek, disse que os saques não estão ligados à questão social. “Quebrar vitrines para roubar uma televisão é [algo feito] por outros motivos”, afirmou.

Na sexta-feira (21), o governo enviou 400 policiais a Bariloche. O prefeito Omar Goye disse que a cidade vive “um problema social que tem muitos anos”. A crise foi agravada pelos efeitos das cinzas de um vulcão que entrou em erupção no ano passado.

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