Um dia depois de aprovar em referendo o estatuto autonômico com o qual pretende obter mais independência de La Paz, as autoridades do rico departamento (Estado) boliviano de Santa Cruz começaram nesta segunda-feira (05) a preparar as primeiras mudanças. ?Fizemos uma lista de medidas mais simples, cuja implementação não vai ferir princípios da Constituição?, disse Carlos Pablo Klinsky, presidente da Assembléia Autonômica, que redigiu o estatuto.
Segundo Carlos Dabdoub, secretário de Autonomia de Santa Cruz, as reformas incluirão o estabelecimento de um salário mínimo departamental, mais alto que o do restante da Bolívia, a organização de grupos de trabalho para discutir como atuar em áreas como educação e transportes e a criação de um imposto a ser cobrado dos grandes proprietários de terras, para financiar projetos do governo local. Pelo estatuto (espécie de Constituição regional), as autoridades da região têm 90 dias para convocar eleições para uma Assembléia Legislativa local. Segundo Klinsky, também está em discussão a formação de uma polícia. ?A idéia é ter uma força regional que atue de forma coordenada com a polícia nacional?, diz Klinsky.
Algumas das medidas haviam sido anunciadas pelo governador de Santa Cruz, Rubén Costas, no domingo (04) à noite, logo após a divulgação das pesquisas de boca-de-urna (ontem confirmadas por resultados parciais), que deram ao ?sim? à autonomia uma vitória com 85% dos votos. Costas abriu a possibilidade de que sejam feitas mudanças no estatuto, no que pareceu ser um gesto de conciliação em relação a La Paz, que considera o documento ilegal. Nos últimos dias, autoridades de Santa Cruz têm ressaltado que a conquista da autonomia será ?um processo longo? e deve incluir um acordo com La Paz.
A resposta do presidente Evo Morales ao referendo foi contundente. Em discurso na TV, ele qualificou a consulta como um fracasso e mencionou os 40% de abstenção. Evo também ofereceu-se mais uma vez para negociar ?as autonomias departamentais?, mas dentro de um conjunto de temas que inclui as autonomias indígenas e municipais – proposta rejeitada pelas regiões.