Rússia: Observadores identificam falhas nas eleições

Líderes da oposição e observadores russos afirmaram, neste domingo, que identificaram amplas violações nas eleições que devem levar Vladimir Putin de volta ao Kremlin.

Putin, que foi presidente da Rússia entre 2000 e 2008, deve vencer facilmente a eleição deste domingo, disputada ainda por outros quatro postulantes. Mas, se evidências mais fortes de manipulação de votos emergirem, devem fortalecer a determinação das forças opositoras em manter a onda de protestos sem precedentes que eclodiu em dezembro.

A Golos, uma agência independente de observação, informou que recebeu relatórios sobe os chamados “carrossel de votação”, no qual ônibus cheios de eleitores são levados para votar múltiplas vezes. “Há várias pessoas votando mais do que uma vez, levados por vários ônibus em Moscou”, disse a representante da Golos, Lilia Shibanova, que afirmou que relatos semelhantes foram recebidos de Novosibirsk, a terceira maior cidade russa, e de Barnaul, uma cidade localizada no sudoeste da Sibéria.

“Obviamente, nós esperávamos ‘carrosséis’, mas não com essa escala”, disse Alexei Navalny, um dos líderes mais carismáticos da oposição no Twitter.

A acusação de fraude eleitoral ampla nas eleições parlamentares desencadeou uma série de protestos contra Putin, que tem permanecido como um líder central a despeito de ter deixado a Presidência para ser primeiro-ministro quatro anos atrás, em razão de limites ao mandato. As manifestações foram as maiores demonstrações públicas de insatisfação desde o fim da era soviética e exibiram o crescente descontentamento com a ossificação política e a corrupção debaixo do governo de Putin, que continuou sendo o político mais influente do país mesmo como premiê.

Irregularidades

O site da Golos registrou mais de mil queixas de irregularidades, incluindo listas de eleitores com validade questionável e defeitos no funcionamento de câmeras em locais de votação.

Câmeras foram instaladas em mais de 90 mil postos de votação na Rússia, após a eleição legislativa, uma estratégia determinada por Putin em resposta às acusações de falhas na contagem e cédulas falsas. Nas eleições parlamentares, o Rússia Unida, o partido de Putin, reteve a maioria no Parlamento, mas perdeu um espaço substancial em relação ao controle esmagador que detinha anteriormente.

A missão de observação eleitoral da Organização para Segurança e Cooperação na Europa fez observações céticas em um relatório sobre os preparativos para a eleição. “Esta não é uma eleição…, é uma intimação”, disse Boris Nemtsov, outro proeminente líder da oposição.

Mas a despeito do crescente desânimo, pesquisas de opinião mostraram Putin em uma posição vantajosa para derrotar os outros quatro candidatos e retornar à Presidência. Putin presidiu o país em uma fase de crescimento significativo da prosperidade, em contraste com o período de desordem e ansiedade da década de 1990, quando Boris Yeltsin liderou a ascensão da Rússia dos destroços da União Soviética. “Na época de Boris Nikolayevich, a vida era simplesmente um pesadelo, mas, agora, você sabe, está ok. Agora, está boa, estou feliz com a atual situação”, disse Alexander Pshennikov, que votou em Putin em um posto eleitoral em Moscou.

Mas outros eleitores estão cansados da linha dura do ex-espião da KGB. Natalya Yulskaya, de 73 anos, disse que votou no bilionário Mikhail Prokhorov como um gesto de protesto contra Putin. “Eu sei que a KGB vai ficar no poder, mas eu estou tentando”, disse.

Putin tem desmerecido as acusações dos manifestantes, descrevendo-os como uma minoria elitista urbana mimada e como vítimas inocentes dos países ocidentais, que, segundo afirmou, continuam querendo debilitar a Rússia.

Complô

O desdém de Putin ante as manifestações tornou-se ainda mais nítido na última semana da campanha, quando ele sugeriu publicamente que a oposição tinha o desejo de matar um de seus líderes para despertar a ira contra ele.

A declaração veio na esteira de notícias vinculadas na televisão de que foi desmantelado um complô dos líderes chechenos para matar Putin logo após a eleição. Alguns dos rivais de Putin afirmaram que a notícia era um truque de campanha para ampliar o apoio a Putin. Após a eleição, os protestos devem ser retomados.

“Estas eleições não são livres. E é por isso que faremos protestos amanhã. Não reconheceremos a legitimidade do presidente”, disse Mikhail Kasyanov, que foi o primeiro-ministro de Putin antes de migrar para a oposição.

O Ministério do Interior convocou mais de 6 mil policiais para reforçar a segurança na capital, de acordo com a agência de notícias Itar-Tass. Até o momento, não havia registro de confusões neste domingo, embora a polícia tenha prendido três mulheres que tiraram a blusa no colégio eleitoral onde Putin depositou seu voto. Nas costas desnudas de uma delas, era possível ler a palavra “ladrão”.

Centenas de russos se apresentaram como voluntários para atuarem como observadores da eleição, recebendo treinamento sobre como reconhecer uma fraude no voto e registrar a violação. As informações são da Associated Press.

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