O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, negou hoje que o avião comercial sírio interceptado pela Turquia anteontem levasse armas para as tropas do regime sírio usarem nos combates contra a oposição.
Ele afirmou que a carga que saiu de Moscou dentro da aeronave era de aparelhos para radares, que podem ter aplicações militares ou civis, mas não são proibidos pela legislação internacional.
“Não temos segredos. Claro que não havia armas no avião e nem poderia haver nenhuma. Existia uma carga no avião que era de um fornecedor russo legal mandando de maneira legal para um consumidor legal”, disse, em entrevista à TV estatal russa.
Segundo Lavrov, a empresa responsável pela encomenda pedirá o retorno dos contêineres apreendidos pelos turcos, que estão sob inspeção em Ancara.
Ontem, o primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, afirmou que o avião comercial carregava munição de fabricação russa destinada ao Ministério da Defesa da Síria.
“Não se pode transportar esse tipo de material em um avião civil. Vou mais longe: não se deveria transportar sequer grandes quantidades de facas nesse tipo de voos”.
Após a apreensão, as autoridades turcas começaram investigação e Erdogan informou que será divulgado um relatório assim que concluído o procedimento.
O pouso não programado do avião causou irritação aos governos russo e sírio.
Damasco chamou a ação de “pirataria aérea” e exigiu a carga de volta, enquanto a Rússia acusaram os turcos de colocar a vida de seus cidadãos em risco.
Interceptação
O Airbus A320 da Syrian Arab Airlines foi obrigado a pousar em Ancara após ser interceptado por dois caças F-16 da Força Aérea turca, por volta das 17h15 locais (11h15 em Brasília). Nele, viajavam 37 passageiros que vinham de Moscou.
A aeronave foi submetida a registro e as autoridades turcas apreenderam cerca de dez contêineres, com conteúdo supostamente ilegal, que violaria as normas de transporte da aviação civil.
O avião foi liberado por volta das 2h30 locais (20h30 em Brasília) para seguir o voo até Damasco. Pouco antes, Ancara emitiu uma ordem proibindo as aeronaves turcas de passar pelo espaço aéreo da Síria.
A interceptação acontece em meio à troca de bombardeios entre sírios e turcos na região de fronteira entre os dois países, após um ataque vindo da Síria atingir uma casa na cidade de Akçakale, na Turquia, deixando cinco mortos no dia 3.
A ação aumentou a tensão entre os dois países e a oposição dos turcos ao regime de Bashar Assad, que enfrenta confrontos violentos com grupos armados de opositores desde março de 2011.