A afinidade entre seres humanos e animais de estimação costuma ser tão grande que é comum que algumas pessoas digam que conseguem se comunicar com seus bichinhos, sem utilizar palavras. Elas também afirmam que os mesmos compartilham de seus sentimentos e conseguem prever determinadas situações cotidianas, como a chegada de alguém da família em horário fora do previsto ou mesmo a ocorrência de um acidente.
Muitos proprietários de animais associam situações como estas ao fato de seus bichos estarem condicionados a determinados comportamentos mantidos pelos moradores da casa. Outros simplesmente as definem como coincidências. Porém, o professor e pesquisador Reginaldo Hiraoka, de Curitiba, vem analisando tudo isto sob a ótica da parapsicologia, defendendo a tese de que os bichos possuem sexto sentido muito mais apurado que os seres humanos por se manterem mais em contato com a natureza.
Reginaldo explica que a parapsicologia se preocupa com comunicações extra-sensoriais entre os seres, como por exemplo a telepatia, e conta que iniciou seus estudos com animais após perceber determinados comportamentos em seu próprio cão e depois de trabalhar, entre os anos de 1996 e 2001, no setor de responsabilidade técnica do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR). Em 2002 realizou uma pesquisa com 120 estudantes de Biologia, onde aplicou aos mesmos uma série de perguntas, e descobriu que 85% deles relatavam já ter verificado no dia-a-dia algum tipo de fenômeno ligado à parapsicologia envolvendo animais.
?No CRMV-PR, eu ouvia relatos diários de profissionais que comentavam sobre comunicações extra-sensoriais mantidas pelos animais. Um dos mais interessantes que chegou a meu conhecimento ocorreu em uma clínica veterinária de Curitiba. No local, todos os cachorros se recusavam a entrar em um determinado consultório. Quando eram levados ao lugar, choravam, latiam e precisavam ser puxados para dentro, sendo que o mesmo não ocorria em outras salas. Curiosos, os responsáveis pela clínica resolveram fazer uma pesquisa sobre o histórico do imóvel que ocupavam e descobriram que, justamente no local onde os cães não queriam entrar, havia ocorrido um assassinato alguns anos antes. Então, chegou-se à conclusão que, de alguma forma, os animais podiam sentir o que havia acontecido, se recusando a entrar no ambiente?, conta.
Os estudos do professor se baseiam principalmente em trabalhos publicados por Joseph Banks Rhine, que faleceu na década de oitenta, e é considerado o pai da parapsicologia, e pelo pesquisador inglês Rupert Scheldrake, tido como um dos parapsicólogos mais influentes da atualidade. Tanto Joseph quanto Rupert são biólogos e, em seus estudos, citam fenômenos de parapsicologia verificados com animais. ?Rupert Scheldrake narra um fato ocorrido na Inglaterra, onde um cão sabia quando sua dona estava para chegar em casa mesmo que esta não tivesse horários fixos. Quando a proprietária saía do trabalho, o animal, que estava em casa, ficava agitado e passava a agir como se a estivesse esperando, alertando os outros moradores. A suspeita é de que a afetividade gerasse algum tipo de comunicação telepática, sendo que foi constatado que era impossível que o animal agisse por condicionamento justamente porque sua dona não cumpria sempre os mesmos horários de atividade e devido à distância entre ambos?, revela. ?Fatos semelhantes já foram descritos por outras pessoas, mesmo aqui no Brasil.?
Reginaldo também associa outros fatos interessantes, citados pela mídia impressa e televisiva, à parapsicologia. Um deles diz respeito à época da Segunda Guerra Mundial. ?Durante a guerra, soldados percebiam que gatos se afastavam de acampamentos onde costumam circular momentos antes de os locais serem atacados por tropas adversárias. Desta forma, começaram a suspeitar que os felinos eram capazes de sentir a aproximação dos inimigos, se deslocando para outros locais como forma de autodefesa.? Mais recentemente, o professor também associou o fato de muitos animais não terem morrido vítimas do tsunami, que atingiu a Indonésia no final de 2004, ao sexto sentido mantido pelos mesmos. ?Foi constatado que, momentos antes da chegada das ondas gigantes, animais se deslocaram do local atingido pelo tsunami. Acredito que, de alguma forma, eles possam ter pressentido o perigo.?
Outros casos citados pelo professor são de animais que pressentem que seus donos vão se afastar (como no caso de viagens), percebem quando os mesmos correm algum risco e tentam alertá-los e adotam o comportamento dos proprietários, ficando tristes quando estes estão tristes ou alegres quando estão felizes. ?O sexto sentido dos animais pode estar ligado à necessidade de afeto e mesmo de proteção, sendo que muitos animais, sem os donos, podem não ter suas necessidades fisiológicas atendidas. Embora a parapsicologia seja reconhecida como ciência pela Associação Americana para o Progresso da Ciência e já tenham havido diversos experimentos com animais (alguns envolvendo a participação de pessoas cépticas), ainda existem muitos questionamentos e preconceitos sobre o assunto. Eu particularmente acredito que os animais tenham um sexto sentido muito maior que o dos humanos, pois estão mais em harmonia com os ambientes onde vivem?, afirma. ?Os fenômenos da parapsicologia geralmente ocorrem de maneira bastante inconsciente e são uma forma muito rudimentar de comunicação, ligada à origem da vida e à necessidade de proteção.?
Ciência não mede grau de sensibilidade
Foto: Chuniti Kawamura/O Estado |
Carlos: não dá para duvidar nem concordar totalmente com o que diz a parapsicologia. |
Ainda não é possível mensurar, de forma científica, o grau de sensibilidade dos animais. Esta é a opinião do médico veterinário Carlos Lendro Henemann, que também conversou com a equipe de O Estado sobre parapsicologia animal.
Carlos não é estudioso do assunto, mas como secretário-geral do CRMV-PR afirma que as pessoas não devem nem duvidar totalmente, nem dizer com certeza absoluta que os animais têm um sexto sentido mais avançado que o dos seres humanos.
?Não dá para descartar o que a parapsicologia diz sobre a sensibilidade dos animais, pois não temos como provar que é errado. Porém, também ainda não existem ferramentas científicas que atestem tudo o que é dito, o que faz com que as teorias ainda sejam mais associadas à parte filosófica e espiritual?, declara.
Embora não duvide da parapsicologia, o veterinário afirma que alguns dos fenômenos citados por Reginaldo Hiraoka e pelos parapsicólogos nos quais ele se baseia para realizar suas pesquisas também podem estar ligados a outras questões. Entre elas estaria o fato de os bichos terem olfato e audição muito mais apurados que o homem.
?Os animais não raciocinam da mesma forma que a gente e percebem determinadas coisas no ambiente que não percebemos. No caso do tsunami, por exemplo, existe a possibilidade de eles terem ouvido o som produzido pelo terremoto que deu origem ao maremoto e sentido as vibrações do terreno, o que pode ter resultado em pânico e instinto de fuga. Já cães que encontram seus donos em locais distantes podem fazer isso utilizando o olfato?, acredita.