Ao receber a notícia a mim encaminhada pelo amigo Jorge Modesto, da morte de José Humberto Romagnolli, em Umuarama, vice-presidente do DCE-PUC, dirigente estudantil estadual e nacional da minha geração, fiquei entristecido e relembrei que sempre me chamava carinhosamente de “meu presidente” até a última vez que nos encontramos, por eu ter sido presidente do DCE-PUC, nos anos 80.

Romagnolli, esta era a forma que o chamávamos. Um rapaz de olhos claros, que quando entrava em sala de aula, para falar aos estudantes, chamava atenção pela sua aparência e pelo conteúdo de sua fala. Mas o que marcou nele foi seu jeito afetivo e carinhoso de ser. Daquele jeito que nós que viemos do interior nos tratávamos, pois os amigos eram a família.

Nos momentos de trabalho pela democracia, quando nos taxavam de perigosos, e faziam com que todos nos temessem e se afastassem de nós, era importante ter amigos assim. Às vezes, voltando para casa, pensávamos que ficaríamos sempre sem ninguém ao nosso lado, mas Romagnolli, com sua fé exagerada, nos dizia, que um dia a democracia viria e que teríamos muitos amigos e as pessoas concordariam que era melhor.

Romagnolli, otimista, nos fazia acreditar que aquele período de arbítrio, onde convivíamos com a solidão e com poucos amigos, ia passar. E nos incentivava.

Romagnolli era insistente, e nos dizia que somente a unidade de todos os segmentos traria a democracia. Nos convencia, mesmo que alguns contrariados, da importância da anistia, mesmo parcial, perdoando os algozes ou depois, de que deveríamos apoiar a ida ao Colégio Eleitoral apoiando Tancredo Neves. Ele pregava a unidade, como se fosse um princípio filosófico. Era o filósofo da unidade. Por isso foi superior a todos em seu tempo, pois era mais amplo do que todos.

Ao comunicar o fato a um amigo comum, o professor e doutor da UFSC, Orides Mezaroba, me lembrou que como um dos continuadores de nossas atividades lá na PUC, no movimento estudantil e democrático, nunca esquecerá da imagem minha e do Romagnolli, juntos, onde um batia e outro soprava, como uns dos precursores da reconstrução do movimento estudantil e democrático.

Daí me veio a imagem do Romagnolli, como o sopro de um anjo, que veio nos ajudar a ser mais democráticos e tolerantes, mesmo com aqueles que nos agridem. De forma a entender inclusive que somente através da unidade, vamos ficando cada mais generosos e compreensivos. Assim como foi o Romagnolli.

E, figurativamente, lembro do filme Zelig, do Wood Allen, que nos mostra um indivíduo andando ao lado do outro e incorporando os seus jeitos, imagino que todos nós que convivemos com o Romagnolli, devemos entender que Deus, ao ter colocado ao nosso lado, uma pessoa tão doce e amorosa, quis que nós também incorporássemos o seu jeito, para construirmos uma sociedade melhor.

Geraldo Serathiuk é advogado.

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