A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, chegou nesta sexta-feira (5) à Líbia para uma visita histórica, tornando-se a primeira funcionária de alto escalão do governo americano a visitar o país norte-africano desde 1953, e abrindo um novo capítulo na história das relações entre esses dois antigos inimigos. Ela se reunirá com o líder líbio, Muamar Kadafi, para colocar fim a um período de quase três décadas de desentendimentos entre os dois países.
“Este é um momento histórico, que ocorre depois de muita dificuldade, de muita gente ter passado por sofrimentos que nunca serão esquecidos nem aplacados, americanos em particular”, declarou Rice em entrevista coletiva concedida em Lisboa, antes de embarcar para o país. “Também é preciso notar que esse momento ocorre depois da decisão histórica da Líbia de abandonar suas armas de destruição em massa e de renunciar ao terrorismo. A Líbia é um lugar que está mudando e quero conversar sobre como essas mudanças estão acontecendo”, prosseguiu.
As relações bilaterais atravessaram sua pior crise na década de 1980, quando houve atos extremistas com envolvimento do governo líbio e retaliações militares americanas. O ex-presidente americano Ronald Reagan chegou a chamar Kadafi de “cachorro louco”.
A situação começou a mudar em 2003, quando Kadafi prometeu abandonar seus programas de armas químicas, biológicas e nucleares e compensar familiares de vítimas de ataques atribuídos à Líbia, levando Washington a rever suas restrições a Trípoli.
“Há um longo caminho pela frente, mas eu acredito de fato que isso mostra que os Estados Unidos não têm inimigos permanentes”, disse a secretária de Estado, ainda em Lisboa. Ela disse que nunca esperaria ir para a Líbia.
Condoleezza foi recebida com uma cerimônia modesta no aeroporto e tinha um encontro com o ministro de Relações Exteriores líbio, antes do ponto alto da viagem – o jantar com Kadafi. Ele a convidou para a refeição que interrompe o dia de jejum, observado durante o mês sagrado do Ramadã.
Havia poucos detalhes disponíveis sobre o encontro, mas a expectativa era que o jantar ocorresse em uma tenda tradicional, semelhante à usada no deserto. Kadafi deveria estar cercado apenas por guarda-costas femininas. Condoleezza é a primeira secretária de Estado dos EUA a visitar a Líbia desde John Foster Dulles, em 1953. É a principal funcionária a ir ao país desde a visita do então vice-presidente Richard Nixon, em 1957.
Negócios
A Líbia anunciou que abandonaria as armas de destruição de massa e renunciaria ao terrorismo em 2003. Desde então o país concordou em pagar indenizações para familiares das vítimas de um atentado em 1988 contra um avião da Pan Am, em Lockerbie, Escócia, e de um ataque a uma discoteca em Berlim, em 1986. O dinheiro ainda não foi integralmente pago, mas funcionários americanos se mostraram confiantes de que o valor estará completo em breve.
A visita ocorre em um momento de crescente interesse das empresas americanas de fazerem negócios na Líbia, onde companhias européias aumentaram sua participação nos últimos anos. A Líbia tem a nona maior reserva comprovada de petróleo do mundo, perto de 39 bilhões de barris, e vastas áreas não exploradas.