Os países latino-americanos rejeitaram a tentativa dos Estados Unidos de lançar no continente seu princípio de "guerra preventiva". A resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) repudiando a incursão da Colômbia no Equador, assinada na madrugada desta terça-feira, isolou os EUA, segundo fontes diplomáticas.
Os EUA queriam que a resolução fizesse menção ao direito de "legítima defesa" da Colômbia contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), como justificativa para a invasão do território equatoriano. Para os americanos, era uma estratégia legítima atacar uma "entidade terrorista" em outro país de forma preventiva.
Eles invocaram o artigo 22 da OEA, o qual determina que "os Estados americanos comprometem-se, em suas relações internacionais, a não recorrer ao uso da força, salvo em caso de legítima defesa, em conformidade com os tratados vigentes, ou em cumprimento dos mesmos tratados."
Mas todos os países presentes, incluindo o Brasil, rejeitaram terminantemente a tese dos EUA para defesa da Colômbia, sua aliada. Os integrantes da OEA argumentam que esse artigo não vale para o caso, porque as Farc não são um país.
Na resolução final, a OEA "repudia" a incursão das forças militares colombianas no Equador (apesar de insistência dos equatorianos por uma "condenação" ao governo colombiano) e não faz menção a nenhum atenuante para a Colômbia.
A insistência do Equador em incluir uma "condenação" à Colômbia (termo que, na diplomacia, é mais forte que repúdio) e a tentativa de americanos e colombianos de incluir a tese da legítima defesa fez com que as negociações se arrastassem por 15 horas na segunda-feira. Depois de muito bate-boca, só conseguiram chegar a um consenso à 1h30 da terça-feira. Mesmo assim, os EUA fizeram questão de emitir uma nota, levantando a questão da legítima defesa.
A resolução tampouco inclui qualquer menção ao "terrorismo das Farc", como desejavam os EUA. O Brasil, por exemplo, considera que as Farc cometeram atos terroristas, mas não as classificam como "organização terrorista". No texto da OEA, há uma recomendação muito leve para "reiterar o firme compromisso de todos os Estados membros de combater as ameaças da segurança provenientes da ação de grupos irregulares ou organizações de criminalidade, especialmente vinculadas ao tráfico de drogas". Ou seja, a resolução passou bem longe do desejo dos EUA de recomendar "um compromisso regional para combate ao terrorismo".
Apesar da "suada" resolução da OEA, o Equador afirmou hoje que ainda não irá restabelecer relações diplomáticas com a Colômbia. Mas diplomatas acham que isso deve acontecer em breve, até mesmo antes da Assembléia Geral da OEA em Medellín, em junho. "Depois da resolução, será avaliado o panorama para ver se as condições estão totalmente maduras para um restabelecimento das relações diplomáticas", disse o chanceler interino do Equador, Eduardo Egas.
O ministro da Defesa do Equador, Wellington Sandoval, fez um alerta dizendo que o país irá manter o reforço de tropas na fronteira colombiana até o reatamento das relações.