ARQUEOLOGIA DO ORIENTE MÉDIO
Duas horas antes do horário previsto para a decolagem do Boeing 747, da empresa israelense El-Al, encontrava-me nas espaçosas salas do Aeroporto de Roma, procurando o guichê da companhia. Numa primeira revista, um tanto apressada, ao longo das bem-iluminadas passarelas, não achei o que procurava. Resolvi fazer a revista devagar. Sem nenhum sucesso. Finalmente, por indicação de um guarda de segurança, dirigi-me até uma pequena ante-sala, de cuja parede lateral e sobre uma porta entreaberta, pendia uma placa iluminada identificando o balcão da companhia.
Ao atravessar aquela porta, já no interior de uma enorme sala, experimentei uma sensação de mudança súbita de reação emotiva ao perceber vários jovens, alguns deles fardados, carregando metralhadoras com os canos apontando a todo aquele que ali chegava. Imediatamente, uma sorridente mocinha aproxima-se e me convida a segui-la até alcançar uma escrivaninha. Ela era uma funcionária da polícia israelense.
O timbre de sua voz revelava estar recém-ingressando na sua fase de maturidade. Mesmo assim, suas palavras eram imperativas sem deixar de serem corteses. Submeti-me, dessa maneira, a um interrogatório extenso que, pelas informações requeridas, pareceu-me, num instante, que seria barrado de prosseguir. Após quase vinte minutos, que pareciam não acabar, finalmente fui liberado, meu passaporte carimbado e apto para embarcar rumo a Israel.
Antigo e o moderno
Do Aeroporto Ben Gurion, em Telavive, até Jerusalém, demora-se aproximadamente 35 minutos de viagem sobre estrada bem-construída. A paisagem é singular, formada por inúmeras colinas de pedregulhos e areia, que configuram um panorama desértico quase desabitado e com vegetação escassa. Em determinadas paragens do trajeto, surgem, isolados do tempo e da civilização moderna, rebanhos de ovelhas guiados por meninos beduínos vestindo a rigor as vestes típicas de personagens do Velho Testamento.
Complementam o cenário de tempos bíblicos, algumas tendas de beduínos, confeccionadas com tecidos de lã, quase exclusivamente de cor preta. Debaixo das tendas encontram proteção e abrigo os membros da pequena comunidade e seus animais, vivendo na mesma harmonia de uma tradicional família do período patriarcal. Finalmente, a histórica cidade de Jerusalém.
A primeira menção bíblica a cidade se encontra em Gênesis 14, ao se referir a Melquisedeque como rei de Salém. Em documentos antigos do Egito e da Mesopotâmia, a designação comum é “Urusalim”. O nome de Jerusalém escrito em hebraico pode ser interpretado como “cidade da paz”.
Avenidas asfaltadas dividem quarteirões onde se alicerçam enormes prédios de apartamentos e hotéis de classe, construídos com o conforto tecnológico da época atual, porém adaptados à arquitetura do passado. A fachada dos prédios tem em comum o revestimento de pedras calcárias, esbranquiçadas, de formato retangular que outorga uma sensação de viver no período pré-evangélico. É a nova Jerusalém, habitada na sua maioria por judeus.
Velha Jerusalém
O interesse maior reside na “Velha Jerusalém”. Esta é a cidade das peregrinações cristãs da Idade Média, o centro da irradiação evangélica do período apostólico, o lugar onde foi consolidado o sacrifício de Jesus Cristo. A “Velha Jerusalém” é uma área de superfície acidentada em forma de quadrado irregular, edificada sobre quatro colinas e limitada externamente por uma muralha.
Os muros atuais da cidade foram construídos pelos turcos, comandados pelo sultão Suleimã, o “Magnífico”, de 1540 a 1542, conforme testificam várias inscrições nas torres e portões. O muro de proteção da antiga cidade tem uma altura média de onze metros e contorna um perímetro de aproximadamente quatro quilômetros, ao longo dos quais se configuram oito portões.
As pedras sobrepostas permitem imaginar uma muralha semelhante, com maior ou menor imponência, construída e reconstruída em tempos bíblicos. A mente estimula o coração a sentir a emoção e desafio de conquista experimentados por Nabucodonosor no comando das tropas babilônicas, o respeito devotado por Alexandre, o Grande, para vencer essa barreira sem causar destruição, ou a momentânea impotência bélica sentida pelo general romano Tito durante os dois anos de sítio sobre Jerusalém antes da destruição em 70 d.C.
Procurei identificar-me com os conquistadores do passado e experimentar suas primeiras sensações diante da grandiosidade do muro, e não poderia penetrar na cidade sem antes sentir reverência.
Pináculo do templo
Alguns dos portões da muralha de Jerusalém foram fechados com pedras, porém, de tal maneira, que se evitou alterações dos umbrais que ainda apresentam estrutura arquitetônica impressionante. Decidi ingressar à cidade sagrada pelo Portão de “Jafa”. Junto a esta entrada existe uma passagem conduzindo por umas escadarias aos corredores da parte alta do muro. Dali pode-se contemplar, numa visão panorâmica, a nova Jerusalém com seus modernos edifícios plantados sobre o solo esbranquiçado dessas colinas.
Por aqueles altos muros, caminhei como um vigia da cidade dos tempos bíblicos em direção sul e leste, observando e procurando reconhecer no interior da velha Jerusalém os lugares sagrados que a tornaram cidade santa. Cheguei até uma esquina do muro onde começa a área do templo, atualmente ocupada e reconhecida como sagrada pelos árabes muçulmanos.
Segundo a opinião de alguns eruditos, tais como Eugene Hoade, nessa esquina estava o “Pináculo do Templo”. É um lugar privilegiado em forma de torre, levantada sobre imponente base de pedras de tamanho descomunal. Ali se sente o ar fresco de uma brisa que chega do deserto. É também o lugar adequado para contemplar, externamente, a verdejante profundidade do Vale de Cedrom e, internamente, as tortuosas e acidentadas ruas que dividem o solo sobre o qual caminhou Jesus.
Ruben Aguilar
, Ph.D, é professor de Arqueologia no Seminário Adventista de Teologia, no Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP.Editor desta sessão:
Ruben Dargã Holdorf