Na véspera do último Natal, dois irmãos de Holguín, no leste de Cuba, foram presos por cantar rap em sua própria casa. O problema não era o volume nem a afinação. Antonio e Marcos Lima Cruz tiveram a casa invadida – primeiro com pedras e ovos atirados pelos vizinhos, depois por policiais – e foram detidos porque entoavam as letras do grupo Los Aldeanes, que falam de coisas como “liberdade de expressão”. A história dos Lima Cruz é um dos casos extremos de uma onda de repressão abafada pelos anúncios de seguidas medidas de flexibilização econômica no último ano.
Segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos, há 50 presos políticos hoje condenados apenas por opinar e o número de detenções relâmpago atingiu em setembro um recorde em três décadas – 563 pessoas passaram pelo menos algumas horas na prisão, o dobro da média dos oito meses anteriores.
Opositores associam a ofensiva do governo à uma tentativa de desarticular grupos como o das Damas de Blanco. Primeiro porque sua líder, Laura Pollán, morreu em agosto. Segundo, porque o objetivo que tornou movimento conhecido, a libertação dos 75 presos de consciência ligados à Primavera Negra, onda de detenções de março de 2003, foi atingido este ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.