Reconstrução do Iraque começa por livros escolares

Nova York

– A foto de Saddam Hussein com uniforme, sorrindo diante de militares desfilando, não aparecerá mais nos livros escolares de crianças e adolescentes iraquianos. Quando, dentro de cinco meses, as escolas iraquianas iniciarem o novo ano escolar a figura de Saddam não será mais que uma lembrança cancelada.

Nos planos de reconstrução do Iraque desenhados pela Administração Bush não haverá apenas novas ruas e novas casas, mas também novos instrumentos didáticos nos quais as crianças iraquianas descobrirão, após mais de 20 anos de governo de Saddam Hussein, que os americanos não são seus inimigos e que a violência contra os invasores não deve ser desejada por um bom cidadão. Junto aos tanques que controlam Bagdá e outras cidades do Iraque, o governo de Washington também está preparando em ritmo acelerado o perfil cultural do novo Iraque, talvez o aspecto mais delicado para a admissão da presença americana no país ao final do conflito.

Não por acaso, foram destinados US$ 65 milhões na concepção do projeto de renascimento iraquiano, dedicado à reforma da cultura e, fundamentalmente, à reestruturação de 6 mil escolas até setembro, data prevista para o começo do ano letivo.

Trata-se de um projeto já implantado no Afeganistão, para o qual em fevereiro passado se destinaram US$ 60 milhões para a construção de mil escolas, a impressão de 15 milhões de livros de texto e a formação de mais de 30 mil professores.

A empresa encarregada dessa tarefa no Afeganistão foi a Creative Associates International, vencedora de um contrato de US$ 16,5 milhões que, disse o jornal The Washington Post, também parece destinada a liderar um grupo de empresas no Iraque.

O primeiro passo da reforma escolar, segundo concebeu Washington, é a criação de novos livros de texto e elementos educativos.

Tal como ocorreu no Afeganistão, onde as teorias impostas nos livros escolares pelo regime talibã deram lugar a visões de mundo mais ocidentais, no Iraque os livros de texto impregnados do culto à guerra e à figura de Saddam Hussein serão adequadamente revisados.

Primeira mudança será eliminação do personalismo de Saddam

Os novos livros de texto terão modificações substanciais, a partir da supressão de todos os mitos impostos aos estudantes pelo governo de Hussein. A primeira mudança será a eliminação do personalismo de Saddam e as alusões à guerra, assim como a apologia do martírio como forma elevada de sacrifício para o bem do país em sua luta contra o inimigo, identificado como Israel, Irã e Estados Unidos.

Outra das prioridades será a supressão das imagens de armas e objetos bélicos, mostrados pelo regime de Saddam Hussein às crianças iraquianas como elementos positivos e imprescindíveis para a vida diária do homem em seu desafio contra os inimigos do país.

Finalmente, a intervenção americana no setor da educação se propõe a relançar um sistema escolar que, antes da Guerra do Golfo, em 1990, era considerado, em nível estrutural, um dos mais avançados do mundo árabe.

De um nível de escolaridade de 75%, estabelecido em 1989 pela Agência para o Desenvolvimento Internacional (AID, em inglês), o Iraque teria descido no final dos anos 90 para 53%. A guerra após a invasão do Kuwait e o posterior embargo reduziram o país a condições críticas e os primeiros gastos que o regime de Saddam Hussein cortou foram os destinados à educação.

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