Um dia após vencer as eleições, a direita chilena delineava ontem suas estratégias para superar o que prometem ser os principais desafios do início de seu governo: a transição de poder, a ausência de maioria no Congresso e a necessidade de conciliar os setores duros e moderados de sua própria coalizão.
Pela manhã, o presidente eleito Sebastián Piñera recebeu a presidente Michelle Bachelet para começar a preparar a transição, que nos últimos 20 anos havia sido feita dentro da própria Concertação – coalizão de centro-esquerda que governa o Chile desde a saída de Augusto Pinochet, em 1990. Bachelet convidou Piñera para participar da cúpula do Grupo do Rio, em fevereiro, em Cancún.
Em seu discurso da vitória, para facilitar o processo de transição, Piñera pediu que os grupos políticos do país façam uma “segunda transição democrática”, revivendo a “democracia dos acordos” do governo Patrício Aylwin, que, após o fim da ditadura, manteve a política econômica de Pinochet. “Faremos um governo de unidade nacional, que construirá pontes de encontro e derrubará muros de divisão”, disse.
A estratégia para driblar a falta de maioria no Congresso também deve ser o diálogo. A direita tem 58 dos 120 deputados e metade dos 38 senadores. Para aprovar seus projetos, terá de atrair os independentes e gente da Concertação, como os deputados mais conservadores da Democracia Cristã (DC).
O problema é que, para atrair o centro, Piñera tem de manter o discurso moderado, mas parte de seu bloco pressionará por um endurecimento. O presidente eleito é do partido Renovação Nacional (RN), de centro-direita, mas também faz parte de sua coalizão a União Democrata Independente (UDI), que representa a direita “dura”, que obteve 40 cadeiras na Câmara dos Deputados. “Somos a favor de um pouco mais de Estado e projetos sociais do que a UDI”, disse o senador eleito Francisco Chahuán, do RN.