Encarar o mercado de trabalho após os 40 anos não é tarefa fácil, mas muita gente tem se voltado para este objetivo esperando conseguir boas oportunidades, com o foco no prazer de executar certas tarefas. Apesar da maior parte das vagas serem ocupadas por jovens, os mais velhos estão certos de que podem oferecer qualidades que somente o tempo proporciona, como a maturidade. Com isso, eles vêm buscando se aperfeiçoar e, mais uma vez, entram nas salas de aula para aprender uma profissão ou aprimorar a que já tem.
Para a coordenadora do Programa da Maturidade do Senac Curitiba, Gislaine Beviláqua, a prioridade no caso de quem pretende trabalhar depois de uma certa idade é aliar realização profissional a qualidade de vida. "Existem empresas que querem colocar essas pessoas no mercado, mas necessitam que as mesmas estejam qualificadas", ressalta. No Senac, por exemplo, o programa especialmente voltado para pessoas com mais de 40 anos inclui cursos de informática, idiomas e modelo e manequim. "A busca é grande e os motivos vão desde a necessidade de aumentar a renda em casa até a simples vontade de não ficar parado", justifica.
Independente das razões que levam as pessoas mais maduras a empreender novas qualificações, eles se mostram em geral determinados e prontos a absorver conteúdos, levando consigo capacidades que as gerações mais jovens costumam raramente exercitar. "Pessoas na fase da maturidade são procuradas muitas vezes pela paciência com que executam as tarefas, além de serem mais atenciosas. Isso tem feito com que muitas empresas dêem valor a profissionais que têm experiência de vida para funções como atendimento ao público, por exemplo", cita Gislaine.
O mercado, mesmo depois dos 40, é competitivo, mas a diferença é que este fator – a competição – já não é mais a preocupação maior de quem pretende trabalhar. "Muitos que fazem o curso de informática, por exemplo, buscam fazer trabalhos em casa, pela internet. Hoje, até uma vendedora de cosméticos precisa saber usar o computador para fazer pedidos", afirma Gislaine.
O curso é também bastante procurado por quem trabalha na área contábil, como forma de atualização. "É um ramo que valoriza muito a experiência". E para quem duvida que pode conseguir alguma coisa com idade mais avançada, a coordenadora do Programa da Maturidade avisa: "As empresas estão mais abertas para olhar essas pessoas. O mercado é competitivo, mas ele existe tanto para o empacotador de supermercados como para o que vai trabalhar no escritório. O importante é a pessoa não ficar parada e buscar se atualizar sempre", dá a dica.
Um exemplo vivo dessa força de vontade é a publicitária aposentada Ana Maria Franzoni da Silva, de 66 anos. Ela faz dois cursos no Senac, italiano e informática, além da faculdade de História. "Na minha área de atuação – publicidade -, o mercado se fecha mais cedo e a experiência não é tão valorizada. As agências preferem os jovens porque acham que têm mais idéias, são mais criativos", acredita. Ainda assim, ela não desistiu e resolveu correr atrás do aperfeiçoamento. "Ninguém pode parar, tem que se atualizar sempre e estar atento ao que o mercado exige. Além disso, a maturidade é uma boa oportunidade para quem quer mudar de profissão. Tem gente que acaba trabalhando a vida inteira com o que não gosta. Se aparece uma oportunidade depois…", diz, certa de que nunca é tarde para recomeçar.
Auto-estima nos desfiles de modelos
O Senac Curitiba está com inscrições abertas para o curso de modelo e manequim até o dia 27. A ressalva é que este não é um curso qualquer. É destinado a pessoas com mais de 40 anos, e a idéia é não só profissionalizar, mas, também, elevar a auto-estima de alunos e alunas que não têm vergonha de expor a maturidade. "O discurso deles quando começam é de que pretendem atender a uma satisfação pessoal e momentânea, mas, quando terminam, querem trabalhar", conta a professora do curso, Maria Tereza da Silva.
Ela afirma, porém, que o mercado que vem pela frente não é fácil. "É competitivo e eles enfrentam os mesmos critérios de seleção que os modelos jovens, muitas vezes têm de esperar horas na fila pelos testes", conta. Por isso mesmo, a maior parte dos alunos encara bons cachês como complemento. "Nessa faixa etária, é mais para satisfazer o ego e ter uma ocupação. Mas os que estão no mercado são os que não desistem e estão sempre buscando oportunidades", explica Maria Tereza.
É o exemplo da ex-aluna Carmen Lúcia Ricardo Barros, 58, que resolveu fazer o curso influenciada por uma amiga. "Comecei sem expectativas, mas conforme o curso foi se desenrolando, comecei a amar", recorda. Ela ressalta, apenas, que para se dar bem é preciso ter o perfil para a profissão. "Se quem tem talento para isso já enfrenta dificuldades no mercado, imagina quem não tem", indaga Carmen, que se formou no final do ano passado e já está em seu terceiro trabalho como modelo profissional. Para ela, que encara os desafios da nova profissão sem medo, o que vale é o desejo de atuar no que faz bem à auto-estima. (LM)
Universidade é um novo começo
Carlos Marcondes Filho, 61 anos, foi bancário a vida inteira, mas depois da aposentadoria resolveu voltar à sala de aula e começar tudo de novo: fez a faculdade de Direito, aos 40 anos. Começou a atuar na área há doze anos, e aprovou os resultados: "Ganhei mais dinheiro em pouco tempo como advogado que a vida inteira como bancário", relata. O segredo do sucesso, garante, tem a ver com a experiência, não só profissional, mas também de vida. "Fica muito mais fácil para quem é mais maduro. Ainda mais porque a advocacia exige a confiança do cliente e o fato de ter experiência ajuda, principalmente no fator responsabilidade".
A concorrência, que na área escolhida por Carlos é acirrada, ele tira de letra. "Isso existe em qualquer profissão e em qualquer idade. Tudo depende do interesse, de se gostar do que faz", acredita. Para ele, as qualificações exigidas na profissão têm a ver principalmente com o fator realização aliado ao que a universidade, por si só, não ensina. "O jovem está até mais atualizado, mas a experiência de vida é também muito importante. É preciso ter um conjunto de conhecimentos e informações que não se limitam à parte técnica, mas que vem com o tempo".
O quesito para complementar tal experiência tem a ver com a adequação à dinâmica do mercado de trabalho. "O problema é que a partir de uma certa idade tendemos a parar de nos atualizarmos, o que compromete a vida profissional", diz o advogado, que está fazendo curso de informática por causa da profissão. "É preciso, para ter acesso à informação. Hoje, muitos conteúdos só são encontrados na internet, até livros estão lá", afirma. Quanto ao que ele tem a dizer para quem pensa em recomeçar, mas ainda não tomou coragem, fica a dica: "Enquanto a gente viver, tem de tentar conquistar espaço.
É o desafio que nos mantém vivos". (LM)
