O brasiguaio Wilmar Alba, prefeito de Mbaracayú, no oeste do Paraguai, afirmou que a queima da bandeira brasileira na quinta-feira (15) no departamento de San Pedro, não passa de um "caso isolado". Alba, que migrou ao Paraguai há 16 anos, sustentou que a queima foi realizada "por grupos de camponeses que gostam de confusão e anarquia".
Segundo o prefeito, se o presidente eleito, o bispo Fernando Lugo, já tivesse tomado posse, "não teria acontecido uma coisa dessas, até porque ele já trabalhou com camponeses". Alba, um dos três prefeitos de origem brasileira em todo o Paraguai, considera que o caso da queima "é o tipo de coisa que – a princípio – não se espalhará".
Alba é representante do Partido Liberal Radical Autêntico, que integra a coalizão de governo de Lugo. O município que administra, Mbaracayú, que possui 8.500 habitantes, dedica-se à agricultura.
Para o sociólogo e analista político Bernardino Cano Radil, "é uma barbaridade a queima da bandeira, mais ainda neste momento, quando inicia-se uma nova etapa na relação brasileira-paraguaia, com a possibilidade de debater diversos assuntos como as tarifas de Itaipu e investimentos brasileiros aqui".
O presidente da Associação Rural do Paraguai (ARP), Alberto Soljancic, denominou de "lamentável" a queima da bandeira brasileira. No mesmo dia, Soljancic foi vítima de uma invasão de uma fazenda sua por parte de 40 indígenas. Coincidentemente, a fazenda está localizada no departamento de San Pedro, onde ocorreu o incidente com a bandeira.
O presidente eleito Fernando Lugo, que está em Lima como convidado especial da cúpula de países latino-americanos, caribenhos e da União Européia, deixou claro que o conflito não é de sua responsabilidade: "não temos nada a ver, nós seremos responsáveis a partir do dia 15 de agosto, data de sua posse presidencial".
Comunidade
"Brasiguaio" é a denominação genérica dada aos brasileiros que migraram para o Paraguai ao longo dos últimos 40 anos. O termo também é aplicado aos filhos e netos desses imigrantes. O número dos integrantes da comunidade é de difícil contabilização. Segundo diversas fontes, oscilaria entre 100 mil e 500 mil pessoas.
O crescente peso da comunidade na economia – e sua acelerada expansão nas áreas rurais – provocou nos últimos anos tensões entre grupos de camponeses e os brasiguaios. Do total da soja que o país produz, 98% provém das fazendas e sítios de brasiguaios. O produto representa 30% do PIB paraguaio.