A queda do governo libanês criou um clima de profunda incerteza política no país, após um ano de relativa estabilidade, enquanto o presidente inicia o processo para organizar uma nova administração. O presidente Michel Suleiman pediu a Saad Hariri que permaneça como primeiro-ministro interino depois da saída, ontem, dos integrantes do Hezbollah e de seus aliados, o que derrubou o governo. A crise é o ponto alto das tensões, que vinha crescendo havia meses por causa da investigação do tribunal da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o assassinado do pai de Hariri, o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, ocorrido em 2005.
Acredita-se que o tribunal vá indiciar em breve integrantes do Hezbollah, o que, teme-se, pode reacender a violência no país. O Líbano sofreu com uma devastadora guerra civil entre 1975 e 1990, com a invasão israelense em 1982 para expulsar combatentes palestinos no sul que foi seguida por uma ocupação de 20 anos da região, além da guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah e as disputas sectárias internas entre sunitas e xiitas em 2008. O colapso do governo provocou a pior crise política desde 2008 em um dos trechos mais voláteis do Oriente Médio.
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, disse estar preocupado com a possibilidade de o Líbano entrar novamente no caos. “Isso é ruim, tenso, ameaçador”, afirmou ele sobre a situação. “Todos nós temos de trabalhar juntos para chegarmos a algum tipo de acordo”, disse ele aos jornalistas em Doha, no Catar. Israel também disse estar preocupado com a violência em sua fronteira norte e as tropas israelenses no local estão hoje em alerta.
O governo do Líbano, que durou 14 meses, era uma complicada coalizão de rivais – um bloco apoiado pelo Ocidente e liderado por Hariri e o Hezbollah, que é xiita – que tentava estabilizar o país. Mas na realidade o governo permaneceu paralisado durante meses em razão das disputas sobre o tribunal que investiga a morte de Rafik Hariri.
O escritório do presidente disse em comunicado que aceitou as demissões dos 11 ministros, um a mais do que o necessário para derrubar o governo, que é de um terço do gabinete de 30 integrantes. Mas ele pediu a Hariri que continue gerenciando as atividades do dia a dia do país até a formação de um novo gabinete. O Hezbollah é apoiado pela Síria e pelo Irã e mantém um arsenal que é muito maior do que o do Exército nacional.
No centro da disputa que derrubou o governo está a denúncia do Hezbollah de que o tribunal, sediado na Holanda, é uma conspiração dos Estados Unidos com Israel e pede que Hariri rejeite todos os resultados da investigação. No entanto, Hariri se recusou a interromper a cooperação com o tribunal.
Agora, as divergências entre os dois lados estão aumentando, e o Hezbollah acusa o grupo de Hariri de se curvar ao Ocidente. Os ministros do Hezbollah programaram suas demissões para coincidir com a reunião de Hariri com Barack Obama em Washington, fazendo com que ele se encontrasse com o presidente norte-americano como primeiro-ministro interino. Hoje Hariri vai se encontrar em Paris com o presidente francês Nicolas Sarkozy. Suleiman deve iniciar hoje as consultas para a escolha de um novo primeiro-ministro. As informações são da Associated Press.