Creio que o prezado leitor há de estar sentindo um pouco de estranheza e perplexidade, em face do título da presente crônica. Mas eu explico. Reza a tradição que Pietro Aretino, nascido em Arezzo, em 1492, e falecido em Veneza, em 1556, há precisamente 450 anos, teria morrido de um ataque incontrolável de riso provocado por uma piada que lhe foi contada por um amigo. Devia ser extremamente hilariante a dita cuja…

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Mas quem foi Aretino? Foi poeta satírico, que não recuava perante as maiores obscenidades, chegando a ser considerado um mestre desse erotismo hiperbólico que responde pelo nome de pornografia. Foi também comediógrafo, autor de algumas peças que, sem serem realmente importantes, primavam pela originalidade da concepção. Finalmente, e sobretudo, foi um jornalista de palavra ferina e contundente, e que nos seus ataques habituais aos poderosos do seu tempo, não tinha o menor escrúpulo em recorrer à calúnia e à própria chantagem.

Pertence a uma família de escritores, dos quais se salientam Safo e Aristófanes, Catulo e Propércio, Villon e Boccacio, Chaucer e Rabelais, Swift e Johne Donne (estes dois, curiosamente, talvez os maiores sermonistas ingleses depois do cardeal Newmann, mas autores de poemas extremamente licenciosos e desbocados…), Bocage e Gregório de Matos, o Boca do Inferno.

De Aretino lembro um aforismo famoso: ?L?ambizzione è lo sterco della gloria?. E não posso esquecer o seu epitáfio: ?Qui jace Aretin, poeta tosco, /que disse má d?ognum fuor chei de Dio, /scuzandosi com dir: no Lo conosco?. Se o aforismo prescinde de tradução, o epitáfio a exige. Aí vai ela: ?Aqui jaz Aretino, poeta toscano, /que falou mal de todos, menos de Deus, /desculpando-se dizendo: não O conheço?.

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 Quanto à piada que teria provocado a morte do humorista notável, a especulação é livre. Mas creio que é uma impossibilidade metafísica tangenciar o teor da anedota. Apenas uma suposição é lícita: não podia deixar de ser pornográfica. ?Et pour cause…?