O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, realizou hoje um gesto de boa vontade sem precedentes em relação à Polônia. Ele se tornou o primeiro russo a participar, com um líder polonês, de uma cerimônia em memória dos 22 mil poloneses executados pela polícia secreta soviética durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Os 22 mil oficiais, prisioneiros e intelectuais poloneses foram massacrados pela polícia secreta de Stalin em 1940 dentro e nos arredores de Katyn, uma vila perto da fronteira da Rússia com a Bielo-Rússia. Durante a cerimônia, Putin também fez o que pareceu ser a mais forte condenação ao governo de Stalin, dizendo que “em nosso país houve um claro julgamento político, legal e moral sobre os maléficos atos deste regime totalitário e este julgamento não pode ser revisado”.
Mas ele não chegou a pedir desculpas à Polônia ou chamou os massacres de crime de guerra como algumas autoridades polonesas e norte-americanas haviam pedido a ele que fizesse. Tusk usou seu discurso emocional sobre as vítimas polonesas para levar Putin para o assunto. “Primeiro-ministro, eles estão aqui. Eles estão nesta terra. As órbitas de seus crânios perfurados por balas estão procurando e esperando que sejamos capazes de transformar violência e mentiras em reconciliação”, disse Tusk.
Vingança e ressalvas
Depois de comparecer ao evento solene com o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, Putin disse que o ditador soviético Josef Stalin ordenou a atrocidade como vingança pela morte de soldados do Exército Vermelho num campo de prisioneiros polonês em 1920. Putin disse que 32 mil soldados sob o comando de Stalin morreram de fome e doenças em campos poloneses. “É minha opinião pessoal que Stalin sentiu-se pessoalmente responsável pela tragédia e realizou as execuções (dos poloneses em 1940) como uma forma de vingança”, disse Putin à agência de notícias RIA Novosti. O governo polonês não respondeu imediatamente as declarações do líder russo.
Numa outra coletiva de imprensa à noite, Putin disse que a Rússia já tornou público todas as informações, exceto os nomes dos que realizaram o massacre, mantidos em segredo por questões “humanitárias” relacionadas aos parentes desses homens. Putin também disse que o povo russo não deve ser culpado pelas atrocidades em Katyn. “Por décadas, tentativas têm sido feitas para encobrir a verdade sobre as execuções em Katyn com mentiras cínicas, mas sugerir que o povo russo é culpado por isso é o mesmo tipo de mentira fabricada”, disse ele.
Por meio século, oficiais soviéticos afirmaram que as execuções em massa foram realizadas por ocupantes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a União Soviética, sob o governo de Mikhail Gorbachev, admitiu em 1990 que os crimes foram cometidos pela polícia secreta NKVD, precursora da KGB.
Em dezembro, Putin resistiu a uma ampla denúncia contra o governo de Stalin. Ele declarou que era “impossível fazer um amplo julgamento” contra Stalin porque ele industrializou o país e teve um importante papel no combate aos nazistas.