A onda de protestos contra o presidente boliviano, Evo Morales, e seu projeto de Constituição provoca uma grave crise energética em quatro regiões do país em razão da drástica redução no abastecimento. Os bloqueios de estradas no leste e sul da Bolívia, interromperam o transporte de gás liquefeito em botijões para várias cidades, entre as quais Santa Cruz, informou o assessor jurídico da Superintendência de Hidrocarbonetos, Leonardo Chiquíe. Uma estrada que une a Bolívia ao Brasil teria também sido interrompida.
A situação é semelhante na região do Chaco, ao sudeste, onde estão as maiores reservas de gás, principal produto de exportação boliviana. Grupos oposicionistas tomaram ontem uma unidade de bombeamento de gás na cidade de Tarija, ao sul, e cortaram o abastecimento de uma fábrica de cimento. A ação põe em risco o fornecimento de energia, disse a delegada presidencial, Celinda Sosa.
A oposição repudia o projeto Constitucional e exige a devolução de fundos que o governo tomou dos orçamentos regionais para pagar um renda vitalícia aos idosos. Os manifestantes ameaçam cortar o abastecimento de gás para o Brasil e para a Argentina, frente ao que os militares reforçaram o controle nas instalações petroleiras.
Em várias regiões, os protestos já duram 12 dias e os alimentos escasseiam. Uma solução imediata parecia distante neste sábado (6) porque nem o governo nem os oposicionistas cediam em suas exigências. Morales fez nesta sexta-feira (5) uma defesa da democracia e classificou os protestos que incluem a ocupação de várias repartições públicas como um “golpe civil ao Estado”.
Santa Cruz
O prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas, principal líder da oposição, defendeu a manutenção das medidas de força ao visitar na sexta-feira algumas localidades em que há bloqueios de estradas. A crise política no país já dura vários meses e a tensão aumentou após o referendo de 10 de agosto que ratificou Morales em seu cargo com 67% dos votos, assim como a quatro prefeitos de oposição que defendem governos autônomos em suas regiões.
O confronto público e regional gira em torno da demanda por autonomia, que é rejeitada pelo governo, e do projeto de Constituição defendido por Morales, que a oposição afirma que não representa a vontade da maioria dos bolivianos. A ratificação em referendo do projeto de Constituição está em suspenso. O texto propõe a reeleição do presidente, uma economia estatista e confere mais poder aos indígenas.