Confrontos violentos entre a polícia do Chile e manifestantes voltaram a eclodir neste domingo, 20, em vários pontos de Santiago, em meio à explosão social que levou o governo de Sebastián Piñera a enviar militares às ruas. Autoridades decretaram toque de recolher no país pelo segundo dia, adiantando o início da medida para as 19h (18h em Brasília), em meio ao “estado de emergência” em cinco regiões do país.
Ao menos 7 pessoas morreram e 1.462 foram detidas nas manifestações, as mais violentas desde o retorno da democracia após o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Neste domingo, um novo “panelaço” se transformou novamente em enfrentamentos com as forças especiais da polícia e militares, que repeliram os ataques com bombas de gás lacrimogêneo e jatos dágua.
O país amanheceu com praticamente todo o comércio fechado, voos cancelados no aeroporto e ruas vazias, após os protestos iniciados na sexta-feira em razão do aumento do preço da passagem do metrô. O centro de Santiago virou um cenário de destruição: semáforos no chão, ônibus queimados, lojas saqueadas e milhares de destroços nas ruas.
Apesar do toque de recolher e da mobilização de quase 10 mil militares nas ruas, os distúrbios prosseguiram durante a madrugada em Santiago e outras cidades, como Valparaíso e Concepción, que também foram afetadas pela medida que restringe a movimentação.
Cinco pessoas morreram após um incêndio em uma fábrica de roupas na comuna de Renca, no norte de Santiago, que foi incendiada após ser saqueada em meio aos protestos, segundo fontes oficiais.
Também na capital do país, duas pessoas morreram em outro incêndio, desta vez em um supermercado, um dos muitos alvos de ataques dos manifestantes.
Uma pessoa que foi encontrada ao lado dos corpos teve 75% do corpo queimado e está internada em estado grave.
O ministro do Interior e Segurança, Andrés Chadwick, informou que durante a madrugada duas pessoas foram feridas a tiros após um incidente com uma patrulha policial entre Puente Alto e La Pintana.
Destruição
Os manifestantes também atacaram ônibus e estações do metrô. De acordo com o governo, 78 estações foram atingidas e algumas ficaram completamente destruídas.
O prejuízo ao metrô de Santiago supera US$ 300 milhões e algumas estações e linhas demorarão meses para voltar a funcionar, afirmou o presidente da companhia estatal, Louis de Grange.
Eixo do transporte público da capital chilena, com quase três milhões de passageiros por dia, o metrô sofreu uma “destruição brutal”, afirmou Grange.
Descontentamento social
Aos gritos de “basta de abusos” e com o lema que dominou as redes sociais “#ChileAcordou”, o país enfrenta críticas a um modelo econômico em que o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, com elevada desigualdade social, valores de pensões reduzidos e alta do preço dos serviços básicos.
As manifestações não têm um líder definido ou uma lista precisa de demandas. Até o momento aparece como uma crítica generalizada a um sistema econômico neoliberal que, por trás do êxito aparente dos índices macroeconômicos, esconde um profundo descontentamento social.
O presidente Sebastián Piñera – que suspendeu no sábado o aumento do preço das passagens do metrô – se reunirá com os ministros neste domingo para abordar a situação.
Universidades e escolas suspenderam as aulas na segunda-feira, mas os estudantes convocaram um novo dia de protestos. (Com agências internacionais)